Eu afirmo não ser feminista. É algo que, confesso, irrita imenso a minha filha que reclama “como é que podes dizer isso, mãe?”. Pelo contrário, ainda não percebi bem o que é ser feminista. Será o contrário de machista? A ser, mantém-se o meu sentimento de não o ser.

Tento explicar que não sou feminista da mesma forma que não sou racista ou homofóbica. Não compreendo a necessidade de classificar as pessoas em grupos em função do género, raça ou orientação sexual. É para mim óbvio ser dispensável uma qualquer designação que pretenda agrupar pessoas quando, simplesmente, considero que somos todos seres humanos, pessoas, obviamente com direitos e deveres, responsabilidades e garantias, iguais.

Assim sendo, não me considero feminista. Homens e mulheres não são (felizmente) iguais, a não ser nos direitos e deveres que, de forma transversal e universal, têm, uns para com os outros.

Dito isto, acrescento que obviamente não concordo com quotas, não concordo com wage gap, não concordo com abusos de poder que muitas vezes se traduzem em assédio sexual e que me parece até ridículo quem não compreenda que um não, é não!

Posso sentir-me feminista quando sei que por exemplo Nasrin Soutodeh, advogada e activista iraniana, prémio Sakharov em 2012, foi condenada a 38 anos de prisão e 148 chicotadas ou que uma mulher afegã foi condenada a 100 chibatadas em praça pública por adultério. Mas se calhar o que eu simplesmente e na realidade me sinto, é incrédula, indignada e revoltada.

Posso até sentir-me feminista quando leio o artigo da Joana Bento Rodrigues, não pelas barbaridades que escreveu mas por ter estereotipado aquilo que ela considera serem as feministas. Não julgo nem tão-pouco critico o que ela diz para ela própria. Se sente que deve ser submissa perante o marido, é lá com ela. Se tem ideias que a mim me parecem retrógradas, é lá com ela. E é livre de opinar sobre os seus ideais. O que não me pareceu correcto foi criticar, até em tom de acusação, os outros, ou melhor, as outras, mulheres, que possam pensar ou agir de forma diferente.

Ainda sou do tempo em que quando o pai dos meus filhos mudava uma fralda em local público, ouvia imensos elogios por parte de mulheres. A mim, nunca me elogiaram por mudar uma fralda. Mas não foi por isso que deixei de educar os meus filhos segundo princípios diferentes. E o que é certo é que o meu filho partilha as tarefas domésticas com a namorada sem qualquer sentimento de estar a ajudar, ao invés, com a noção clara de que ambos têm o mesmo tipo de obrigação.

De resto, faz-me confusão este fundamentalismo relativamente recente, em torno da igualdade de género, do feminismo, das comunidades LGBT ou de acções junto das escolas que “ensinem” as crianças a não discriminar. As crianças nascem sem saber sequer o que é discriminação. Deve-lhes ser explicado, sim, o que pode ser abuso sexual e como agir, já que está provado que muitas vezes acontece no seio familiar e parte de pessoas muito próximas.

De resto, seria bom que cada um de nós pudesse pensar livremente, viver com as suas opções e respeitar as opções alheias sem qualquer interferência. O Estado não tem de se meter nestes assuntos. Apenas tem de garantir que a lei é cumprida e que a acção de uns não limita a liberdade de outros.

Em jeito de nota de rodapé, confesso que, se calhar, por não perceber bem o que é isso de se ser feminista, não percebo na sua plenitude os ataques aos programas da SIC e TVI onde, dizem, “as mulheres são tratadas como gado”.

Claro que lá tive de espreitar os ditos programas. São pobres? São paupérrimos! As mulheres ficam mal vistas? Ficam. E os homens? Não? Eu acho que também. Um jovem adulto que quer participar num programa de televisão, onde leva a mãe para, em conjunto, escolher uma mulher para casar, é elevar o homem em detrimento da mulher? Não me parece. Um homem, agricultor ou não, que sente necessidade de ir à televisão escolher uma mulher de entre um conjunto de mulheres, é elevado face à mulher? Não me parece.

Quero crer que todos os participantes dos “concursos” concorrem de livre vontade, têm conhecimento do programa e das regras que lhes estão subjacentes e aceitam participar. Querem participar! Os motivos que os levam a tal só eles saberão. Mas quem sou eu para criticar aquele conjunto de pessoas?

Em minha opinião, ninguém sai bem daquele filme. Mas vou criticar? Não. Vou, simplesmente, não ver.

O curioso é que as pessoas que tanto criticam devem ser as primeiras a ver, de fio a pavio, e a dar audiências aos canais. E o que os canais querem não é a elevação deste género ou do outro. Querem facturar! Querem audiências!

O que é facto é que as redes sociais permitem e alavancam aquilo que parece ser o oposto ao propósito inicial. Quando algo parece contrário ao mais socialmente aceite, as redes socais incendeiam-se e o que se pretendia anular, prolifera. O resultado será então o contrário do pretendido. Foi assim com o artigo da Joana, é assim com estes programas.

Se consideram, como eu, que os programas são deprimentes, que impactam negativamente na imagem dos participantes, que em nada vos acrescentam, não os vejam.

Tenham a noção de que comentar, reclamar ou criticar em nome da defesa das mulheres só exponencia o contágio, a partilha. Quanto mais falado for, mais visualizações terá. E os canais, que estão em plena época de caça às audiências, agradecem.

Por considerar fundamental e indiscutível a igualdade de direitos e de oportunidades ou de liberdade e de respeito entre homens e mulheres tenho de ser feminista? Não. Como também concordo com muitos dos princípios que a igreja católica defende e não me digo católica.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.