A idiossincrasia nacional que leva os portugueses a serem acomodados e politicamente corretos, aliada ao facto de ter desaparecido a luta integracionista pelo Império, causa mobilizadora que impeliu durante tanto tempo o orgulho nacional, não têm propiciado em Portugal o crescimento de franjas nacionalistas de direita como ultimamente em França, na Áustria, na Holanda e na Alemanha.
Mas será que no nosso país também se verificam as mesmas causas potenciadoras de aumento do eleitorado mais à direita? Sim, a perda da identidade nacional, a desilusão das políticas prosseguidas pela União Europeia, os refugiados e a desigualdade económico-social são temas que também nos têm assaltado, mas a relação equilibrada que mantemos entre Estado e nação tem sido inibidora da progressão do fator nacionalista.
O eleitorado português tem assumido, ao longo da História democrática, uma posição mais de esquerda do que de direita até porque a direita humanista, conservadora e defensora da economia de mercado nunca teve verdadeiros líderes e, por isso, nunca assumiu protagonismo. Temas como a segurança, o enriquecimento ilícito e a corrupção são tocados superficialmente pela direita só em campanha eleitoral, sendo o CDS-PP o único partido português que defende ainda a soberania ou os antigos combatentes do Ultramar.
Neste momento urge credibilizar a direita, dando-lhe carisma e capacidade mobilizadora, uma agenda moderna e a convicção na defesa das causas, mas infelizmente o que temos é um líder social-democrata assumidamente do centro-esquerda e uma líder centrista cada vez mais comprometida com um discurso populista de esquerda que lhe renda votos. Em Portugal, o partido mais nacionalista é o PCP, um partido marxista-leninista que, de alguma forma, substitui neste aspeto a extrema-direita.
O descrédito dos líderes de direita sem convicções e princípios, desleais aos seus programas eleitorais e à matriz dos seus partidos, tem atirado o eleitorado português ciclicamente para soluções políticas de esquerda, prejudiciais aos interesses nacionais. Para o crescimento de uma direita moderada, ousada e fiel a causas como a defesa intransigente da soberania, dos valores da vida e da dignidade da pessoa humana, é urgente dar espaço aos valores e promovê-los através de personalidades fortes.
Mas é preciso muito mais. São necessárias instituições, mobilização, vontade política e uma sociedade civil cada vez mais empenhada na mudança do paradigma. Os que renegam as origens e cedem à sua identidade numa lógica de poder ou de angariação de votos não são dignos da confiança dos eleitores, e são exatamente estes que têm enfraquecido a expressão dos valores de direita em Portugal.