A eleição de Trump já trouxe imensas novidades e ainda nem houve a tomada de posse. Haverá duas questões a salientar: tem havido surpresas em relação às promessas eleitorais e parece existir uma certa margem para negociar.
Em relação ao proteccionismo, ao contrário do esperado, as duas primeiras e mais imediatas vítimas parece que serão o Canadá e o México. Ainda assim, a ameaça de tarifas sobre os vizinhos não é definitiva, no sentido em que estes países poderão ser poupados se cumprirem certas condições, na limitação de imigração e drogas, ainda que estes requisitos sejam difíceis de cumprir.
A China também será alvo de novas tarifas, mas deverão sofrer, para já, um suplemento de apenas 10%, muito menos do que foi anunciado (tarifa total de 100%).
A UE não foi ainda visada e as ideias propostas por Lagarde parecem interessantes. Mais do que um empresário, Trump é um negociante, pelo que está aberto e até interessado em negociações, sobretudo se puder vender o resultado como uma vitória. A presidente do BCE sugere que a UE se ofereça para aumentar as compras aos EUA, em particular de gás natural liquefeito e de equipamento militar, duas áreas em que terá que haver, de qualquer modo, um aumento das importações europeias.
O grande problema é que será necessária uma posição negocial forte, sentido estratégico e capacidade de decisão. Infelizmente, quando tudo isso é mais necessário, temos os dois principais Estados e motores da UE em grande fragilidade, quer política quer económica.
A coligação alemã caiu, estão marcadas eleições antecipadas para Fevereiro, mas é duvidoso que se consiga um novo governo estável, ainda que a Alemanha tenha uma larga experiência de executivos de vários partidos. A economia germânica é que continua e deverá continuar muito fraca, com muitos problemas estruturais, sofrendo já com a debilidade chinesa e podendo ser ainda mais prejudicada por uma guerra comercial, afectando as restantes economias europeias.
A jogada arriscada de Macron, de Julho, correu muito mal, será muito difícil conseguir um governo estável com o actual parlamento, mas também há sérias dúvidas em que medida novas eleições poderão mudar o quadro actual. A França está com um défice gigante de 6% do PIB, e, mesmo assim, com um dos crescimentos mais medíocres da UE.
Para além disso, a dívida está em 112% do PIB, o que tem levado a pagar taxas de juro acima de Espanha e Portugal, actualmente ao nível das registadas em 2012, durante a crise do euro. Diz-se que o BCE está agora em melhores condições de intervir, mas a única coisa que este banco central conseguirá é comprar tempo. São necessárias medidas altamente impopulares e será muito difícil a sustentabilidade de um executivo que as tome. Como é que será possível resolver isto?
Como vimos, as eventuais soluções políticas a que se chegue na Alemanha e em França serão provavelmente precárias, limitando a sua capacidade negocial e a sua disponibilidade para entrar em grandes compromissos. Von der Leyen tentará suprir esta lacuna, mas muitas decisões têm que ser tomadas pelos Estados Membros, pelo que nos esperam tempos complicados.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.