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EUA: Obama levanta Convenção democrata contra “o vizinho exasperante”

A presença do casal Obama resultou naquilo que se esperava: um momento empolgante que pretendia relançar em definitivo a campanha de Kamala Harris. Lá fora, os protestos eram contra a guerra em Gaza – mas dentro da sala ninguém parece saber onde fica o enclave mais mortífero do mundo.
Obama
Carlos Barria/Reuters
21 Agosto 2024, 08h56

Esperava-se que a presença do casal Obama na convenção do Partido Democrata que esta a ocorrer em Chicago, a terceira maior cidade dos Estados Unidos, fosse um momento alto de comunhão entre a família partidária – e foi isso mesmo que aconteceu. O primeiro presidente negro dos Estados Unidos quer passar o testemunho àquela que poderá ser a primeira presidente dos Estados Unidos – e logo uma negra. Depois da primeira mulher a quase ter chegado à presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, ter passado pelo mesmo palco sem verdadeiramente ter ‘acordado’ a plateia, Obama fez o que atualmente faz melhor: empolgar e manter uma plateia interessada em determinado tema.

Para além de ter enfatizado a importância de os Estados Unidos poderem contar com alguém com a experiência e a sabedoria de Kamala Harris à frente dos seus destinos, Obama zurziu fortemente em Donald Trump – a quem um dia teve de passar o testemunho como presidente dos Estados Unidos. Obama comparou Trump e as suas estratégias de campanha com uma infantil criancinha embirrenta ou com o vizinho que faz tudo para acabar com a paciência dos que têm a desgraça de viver por perto. “E se isso o ter num vizinho exasperante, se for presidente dos Estados Unidos, torna-o num perigo”.

O duplo golpe do casal Obama na convenção na noite de terça-feira, pedindo aos norte-americanos que apoiem Kamala Harris na sua candidatura presidencial de última hora contra o republicano Donald Trump, correu bastante bem e dentro daquilo que estava previamente programado. Obama puxou de todo o seu considerável capital político para apoiar Harris incondicionalmente.

“Não precisamos de mais quatro anos de fanfarronice, fraude e caos. Já vimos esse filme antes e todos sabemos que a repetição geralmente é pior”, disse Obama aos delegados no segundo dia da convenção de Chicago. “A América está pronta para um novo capítulo. A América está pronta para uma história melhor. Estamos prontos para uma presidente Kamala Harris.”

Também se referiu ao ainda presidente Joe Biden (que foi seu vive). “A história lembrar-se-á de Joe Biden como um presidente que defendeu a democracia num momento de grande perigo. Tenho orgulho de chamá-lo o meu presidente, mas ainda mais orgulhoso de chamá-lo meu amigo”, disse Obama, provocando gritos de “we love Joe” – um dos mais ouvidos na convenção.

Obama foi apresentado pela sua mulher, Michelle, que está no topo da lista de desejos dos democratas como futuro presidente – talvez porque os norte-americanos continuem órfãos de uma dinastia democrata. “América, a esperança está de volta”, disse Michelle Obama, recordando a primeira campanha presidencial de Obama em 2008. E focou-se em Trump: “a sua visão limitada e estreita do mundo fê-lo sentir-se ameaçado pela existência de duas pessoas trabalhadoras, altamente educadas e bem-sucedidas que também eram negras”, disse ela sob aplausos ensurdecedores. “Quem vai dizer-lhe que o emprego que ele está à procura atualmente pode ser apenas um daqueles ‘empregos negros?” perguntou – referindo-se ao facto de Trump repetir que os imigrantes que cruzam a fronteira do país vêm à procura de “empregos negros”.

Os republicanos que deixaram o partido desde que Trump o arrebanhou cruzaram o corredor democrata na noite desta terça-feira para discursar na convenção – como foi o exemplo da ex-secretária de imprensa da Casa Branca de Trump, Stephanie Grisham, e o ex-eleitor de Trump, Kyle Sweetser. Grisham descreveu a jornada de uma “verdadeira crente” em Trump até à circunstância de renunciar após o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio.

O governador republicano John Giles, de Mesa, Arizona, também esteve presente e lembrou o falecido John McCain, o senador republicano do seu Estado. “Tenho uma mensagem urgente para a maioria dos norte-americanos que, como eu, estão no meio político”, disse. “O Partido Republicano de John McCain desapareceu e não devemos nada ao atual.”

Do lado de fora da convenção, uma manifestação perto do consulado israelita de Chicago acabou por tornar-se violenta depois de um grupo de cerca de 50 pessoas se ter separado da manifestação principal para tentar romper a linha policial que isolava a infraestrutura. Segundo a Reuters, foram feitas várias prisões. Protestos contra o apoio dos Estados Unidos à guerra de Israel em Gaza têm marcado a convenção, mas a maioria dos intervenientes evitou o assunto – com a exceção do próprio Joe Biden e do senador Bernie Sanders: “Devemos acabar com esta guerra horrível em Gaza, trazer para casa os reféns e exigir um cessar-fogo imediato”.

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