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EUA: Republicanos desentendem-se sobre a forma como combater Kamala Harris

O impacto da chegada da vice-presidente como candidata democrata atirou para segundo plano a ‘entronização’ de Trump na convenção do seu partido. Muitos republicanos aconselham o seu candidato a moderar os ataques pessoais a Harris: afinal, Kamala não é Hillary Clinton.
29 Julho 2024, 07h30

Mais de 200 milhões de dólares e 170 mil novos voluntários depois – aquilo que a democrata Kamala Harris conseguiu ‘amealhar’ em apenas uma semana – os republicanos começam a ficar assustados com o que não conseguiram prever: apesar de afirmarem que tinham antecipado uma eventual desistência de Joe Biden, não estavam à espera – dizem os jornais norte-americanos – que a candidatura da vice-presidente pudesse ter o impacto que está a ter.

Até porque tudo aconteceu ao contrário: depois da tentativa de assassinato de Donald Trump, a convenção republicana era suposto ser o corolário da ‘imbatividade’ do candidato republicano. Mas a verdade é que a notícia da desistência de Biden e o ‘filme’ criado em termo de Kamala Harris consegui suplantar o impacto da convenção republicana. Assim, e ao contrário do que normal, as sondagens tomadas imediatamente a seguir à convenção observam uma descida nas intenções de voto em Trump. Do outro lado, Kamala Harris está em processo de subida – apesar daquele desnecessário ‘golpe publicitário’ do telefone do casal Obama a Harris.

Para já, a única alma que os republicanos encontraram contra Harris é o vilipêndio e a tentativa de humilhação mais ou menos carnavalesca. Mas o problema é que Kamala Harris não é Hillary Clinton – que Trump derrotou em 2016. Nessa altura, o casal Clinton foi facilmente ‘encostado’ ao que de pior existia no país em termos dos círculos de poder e das obscuras interdependências entre os Clinton e uma série de super-milionários. Mas Kamala Harris não é nada disso: é apenas uma ex-promotora combativa, que tem um currículo (para já) à prova de bala – e que é facilmente identificável como alguém que esteve sempre do lado da justiça e, quando necessário, do lado dos mais pobres.

“Na semana desde que começámos, Kamala Harris arrecadou 200 milhões de dólares e 66% disso é de novos doadores. Inscrevemos 170 mil novos voluntários”, postou o vice-gerente de campanha de Harris, Rob Flaherty. A campanha de Trump disse no início de julho que arrecadou 331 milhões no segundo trimestre, superando os 264 milhões que a campanha de Biden e seus aliados democratas arrecadaram no mesmo período. A campanha de Trump tinha 284,9 milhões de dólares em dinheiro no final de junho, enquanto a campanha democrata tinha 240 milhões.

Os jornais norte-americanos não têm dúvidas que Harris trouxe uma dose extra de energia para uma campanha que estava cada vez mais a pender para Donald Trump. Resta saber-se se Kamala Harris consegue aguentar a campanha em redor deste pico de notoriedade que conseguiu em apenas sete dias.

Do lado de Trump, o combate é com as armas do costume: nos últimos dias, o candidato republicano já a Harris “louca”, “maluca” e “dura como uma rocha”, enquanto as redes sociais fazem o seu trabalho ‘sujo’, acumulando mensagens racistas, sexistas e sexualizadas. Os ataques a Kamala Harris, a primeira mulher e a primeira pessoa negra e sul-asiática a servir como vice-presidente dos Estados Unidos, intensificaram-se desde que consolidou os apoios necessários para tornar-se candidata presidencial dos democratas.

Os ataques racistas e sexistas humilhantes ameaçam desviar a atenção do esforço conjunto do Partido Republicano para se concentrar nas políticas de Harris, refere a Reuters. Aliados de Trump, incluindo alguns membros da coligação ‘Negros americanos por Trump’, alertam que depreciar Harris pode prejudicar Trump na sua capacidade de alcançar os eleitores negros, um grupo demográfico crucial na eleição.

Em entrevistas com nove legisladores republicanos e 11 mulheres republicanas negras que apoiam Trump, oito disseram que ataques pessoais a Harris devem ser evitados. Embora cautelosos nos comentários e enfatizando o seu apoio a Trump, vários expressaram preocupação com o teor dos ataques e apontam para a possibilidade de eles serem contraproducentes. “Acho que há uma maneira de a criticar sem passar para baixo das suas roupas”, disse Rae Easley, apresentadora de um programa de rádio conservador negro em Chicago e membro da coligação, citada pela Reuters. “Vou opor-me à vice-presidente Harris por causa do que ela fez, não por quem ela é”, disse o deputado Dusty Johnson, que preside um caucus republicano, também citado pela agência.

Trump tem um largo histórico de atacar oponentes políticos, incluindo mulheres negras no poder, como a promotora distrital do condado de Fulton, Fani Willis, que o está a processar por alegada interferência eleitoral na Geórgia; e a juíza distrital dos Tanya Chutkan, designada para o caso federal contra Trump por tentar anular os resultados da eleição de 2020.

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