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Euler Hermes vê aumento de falências este ano e em 2022 com o fim dos programas de apoio às empresas

Em entrevista ao Jornal Económico, a economista-chefe da líder mundial do seguro crédito refere não antever um aumento generalizado do risco neste sector, mas alerta para os sectores em que as empresas já estavam numa situação financeira frágil antes da crise e que sofreram o impacto do choque em 2020 e 2021.
25 Novembro 2021, 07h30

O fim dos programas de apoio para que as empresas pudessem enfrentar a pandemia de Covid-19 vai fazer aumentar o número de falências neste ano e no próximo, compensando o menor número registado em 2020, considera Ana Boata, Head of Macroeconomic and Sector Research da Euler Hermes, líder mundial do mercado do seguro de crédito e acionista da portuguesa Cosec.

Em entrevista ao Jornal Económico, refere não antever um aumento generalizado do risco de crédito, mas alerta para os sectores em que as empresas já estavam numa situação financeira frágil antes da crise e que sofreram o impacto do choque em 2020 e 2021.

“Na Europa os transportes, o comércio, o sector automóvel e os serviços concentram a maior parcela de empresas frágeis pós-Covid-19”, diz.

 

A resposta à pandemia pode criar um fosso maior entre as economias ocidentais e o resto do mundo?

Dois fatores principais foram determinantes para definir o impacto da pandemia global: a rapidez do lançamento da vacina [para a Covid-19] e a margem de manobra para uma resposta política. Economias com progresso mais rápido na campanha de vacinação, como os Estados Unidos da América [EUA] ou a França, puderam suspender as restrições à mobilidade com maior rapidez e, ao mesmo tempo, limitar o impacto na saúde das novas ondas de coronavírus, permitindo uma recuperação mais rápida da procura interna.

Outro fator importante é a capacidade de resposta à pandemia e, nesse sentido, os grandes pacotes de estímulo fiscal nos EUA e na Europa apoiaram a recuperação.

Por outro lado, as economias onde a disseminação da vacina é baixa, com espaço de manobra baixo a nível de política fiscal, limitando a possibilidade de angariar fundos para estímulos no longo prazo – e isso aconteceu principalmente na África e na América Latina – podem sofrer os efeitos mais amplos e duradouros da pandemia, no longo prazo.

O ritmo de vacinação nas economias mundiais determinará diferentes trajetórias de crescimento?

Vários estudos sugerem que a penetração da vacinação deve chegar a pelo menos 80% da população adulta para acabar com a multiplicação das variantes do Covid-19 e as políticas de interrupção. Portanto, pensamos que outras variantes de Covid-19 serão difíceis de evitar nos próximos trimestres se o mundo emergente permanecer “subvacinado”, num cenário de base, enquanto se procura atingir os 80% da taxa de vacinação nas economias avançadas.

O que se espera em termos de insolvências globais? Quais regiões que estão em maior risco?

Grandes intervenções estatais ajudaram a suprimir uma onda significativa de insolvências em 2020, tendo o ano terminando com uma queda global de 12%. Os registos oficiais acumulados dos anos de insolvências de empresas confirmam o baixo nível prolongado de insolvências globais, mas também apontam para tendências desiguais, e as primeiras evidências do efeito de base que esperávamos dos baixos níveis no último ano. O índice de insolvência global EH permanece 16% abaixo do primeiro semestre de 2020 e 23% abaixo do primeiro semestre de 2019. No entanto, no segundo trimestre de 2021, as insolvências de negócios atingiram níveis mais elevados em um terço dos países, em comparação com o ano passado, em particular na Europa – Itália, Espanha, Bélgica, Suíça, Luxemburgo, Finlândia, Portugal e Reino Unido.

Esperamos que o processo de eliminação gradual das medidas de apoio seja assimétrico devido à situação sanitária desigual, balanças comerciais e a recuperação económica multifacetada, e comece a materializar-se em mais insolvências no final do ano e mais ainda em 2022.

O risco de crédito das empresas está sob controlo ou pode aumentar?

A eliminação gradual das medidas de apoio às empresas deve continuar a compensar as pressões sobre a liquidez e a solvabilidade das empresas em 2021 e 2022. Esperamos que a heterogeneidade entre os sectores diminua com a recuperação global e o levantamento gradual das restrições em todo o mundo.

O elevado nível de disponibilidades financeiras de empresas e famílias que prevalece reduz consideravelmente a probabilidade de um aumento generalizado do risco de crédito, nomeadamente nas economias avançadas.

No entanto, bolsas de riscos permanecem em sectores que estavam numa situação financeira frágil antes da crise e que sofreram o impacto do choque em 2020 e 2021.

Na Europa os transportes, o comércio, o sector automóvel e os serviços concentram a maior parcela de empresas frágeis pós-Covid-19.

Como irão evoluir as empresas com investimentos com critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês)?

A questão da evolução das empresas com investimentos ESG depende da adoção mais ampla desse tipo de investimentos em determinada economia. Uma adoção mais ampla de investimentos ESG e políticas de conformidade implementadas por governos evitaria o surgimento de “boleias”, que têm um incentivo para o não cumprimento de um desempenho melhor, e que numa escala maior prejudicarão a produção global e a realização dos objetivos ESG.

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