As taxas Euribor a três e seis meses atingiram um novo mínimo histórico esta semana. A referência a três meses já cotou abaixo de -0.6%, afastando-se mais de 10 pontos-base da taxa de depósitos do Banco Central Europeu, atualmente nos -0.5% e que nem sequer é a principal taxa de política monetária. A taxa de cedência de liquidez é de 0% e encontra-se nesse nível desde março de 2016.

Se ter taxas de juro tão negativas é algo que vai sendo estranhamente habitual, mais surpreendente é o facto de as Euribor baterem em mínimos históricos quando a inflação homóloga está precisamente em máximos desde que existe a zona euro. Ou seja, as taxas de juro reais estão cada vez mais negativas, penalizando os aforradores. Longe vão os tempos em que a evolução da inflação ditava o curso da política monetária.

A descida das taxas de juro nos últimos dias está relacionada sobretudo com dois fatores. Por um lado, temos a expectativa de que o BCE irá substituir o programa de resposta à pandemia por outra forma de continuar a estimular a economia. Por outro, o mercado monetário está inundado de liquidez neste final de ano, com muitos participantes a preferirem realizar mais-valias de um ano que correu bem em termos de valorização de ativos, mantendo muitos montantes por aplicar.

Apesar de a inflação parecer vir a transformar-se em algo menos transitório do que a retórica do BCE tem dado a entender, não há sinais de alterações na política monetária que levem a uma alteração profunda do comportamento das Euribor em 2022. Tal como escrevia nestas linhas em setembro de 2020: “A Euribor a três meses já está negativa desde abril de 2015, pelo que não se trata de um fenómeno conjuntural. Famílias, empresas, países, governos, bancos e o euro – todos estão reféns dos juros baixos”. E nada mudou desde então.