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Euro digital vai acontecer “com grande probabilidade”, diz especialista do London School of Economics

Ricardo Reis, professor da London School of Economics, acredita que o Banco Central Europeu acabará por emitir o euro digital. Bancos comerciais vão continuar a existir e a dirimir a relação com clientes, mas as moedas estáveis vão “perder grande parte do seu apelo”.
21 Janeiro 2021, 12h07

A probabilidade de o Banco Central Europeu (BCE) passar a emitir o euro digital, como complemento das notas e moedas euros, é “grande”. A opinião é do professor português da London School of Economics (LSE), Ricardo Reis, economista e especialista em sistema de pagamentos.

Durante o webinar promovido pelo Banco de Portugal sobre a estratégia nacional para os pagamentos de retalho, que se realizou na manhã desta quinta-feira, Ricardo Reis abordou o euro digital, dois dias depois de a Comissão Europeia ter comunicado que está a analisar, em conjunto com o BCE, a emissão do euro digital enquanto complemento das soluções de pagamento em numerário.

“O euro digital é a versão da moeda digital dos bancos centrais e 80% dos bancos centrais do mundo, de acordo com um inquérito do Bank for International Settlements,  estão em estudos avançados para introduzir uma forma de moeda digital. Estamos a falar de uma alteração que vai ocorrer com grande probabilidade nos próximos anos”, disse o professor do LSE.

Mas de que falamos essencialmente quando falamos do euro digital? Ricardo Reis explicou: “estamos a falar de abertura do balanço do banco central, a muitos outros intervenientes, quiçá mesmo a todos os intervenientes da zona euro. É disso que estamos a falar”.

“Até que ponto é que todos podemos ter depósitos no banco central e como será desenhado o depósito no banco central”, adiantou o economista.

Frisando que a grande preocupação em torno do euro digital é “não fazer mal ao sistema financeiro”, Ricardo Reis antecipou que esta moeda digital do BCE será um complemento ao numerário e não irá sentenciar a existência dos bancos comerciais tradiconais.

“Em relação à moeda física, com certeza que o euro digital vai ser um complemento e não um substituto”, sublinho o professor do LSE, explicando que ainda “ainda há muitas pessoas na nossa sociedade, embora uma parte ínfima dos nossos pagamentos, que preferem usar notas e moedas”.

Já em relação à banca comercial, Ricardo Reis frisou que não seria exequível que um banco central, como o Banco de Portugal, se tornasse responsável no atendimento ao cliente.

“Não é exequível que o Banco de Portugal tenha de repente de abrir um enorme call center para lidar com todas as pessoas que criam uma conta no Banco de Portugal e que se esqueceram da password da conta. De certeza que os bancos vão continuar”, realçou o economista.

“Por muito que haja o euro digital, é muito difícil acreditar que o Banco de Portugal alguma vez tivesse a capacidade de oferecer esses serviços [de atendimento ao cliente] com a qualidade que os bancos comerciais fazem. Esse lado de abrir uma conta vai provavelmente a continuar a ser desempenhado pelos bancos ” e também pelas novos concorrentes, como as fintech, antecipou o professor do LSE.

O euro digital também vai ter impacto nas criptomoedas e nas moedas estáveis. Embora ambas digitais, as criptomoedas e as moedas estáveis são diferentes. Enquanto as primeiras, como a Bitcoin, são ativos armarzenados de forma digital através da tecnologia blockchain, as segundas são moedas ligadas ao valor monetário de outras moedas, como por exemplo a Libra do Facebook.

Ricardo Reis considerou que, ao longo da evolução da Bitcoin — que começou como “um projeto tecnológico”, para passar a ser um “sonho de utopia social por parte de alguns membros da sociedade” e daí tornou-se num instrumento de criminalidade e de economia informal” —, esta criptomoeda, “embora seja referida como uma moeda”, nunca se tornou verdadeiramente numa moeda.

Por isso, frisou, a Bitcoin “não é relevante para o sistema de pagamentos”, ao contrário das moedas estáveis.

No entanto, estas poderão ter ‘os dias contados’, porque o euro digital será “um grande concorrente”, num contexto de concorrência “leal”. Isto é, se e quando emitido o euro digital, a regulação será “inevitável”, devido à proteção dos consumidores, fazendo com que as outras moedas estáveis percam “grande parte do seu apelo”, antecipou o professor do LSE.

O euro digital incrementará ainda a posição euro enquanto moeda global, reforçando assim o seu papel nas relações internacionais, que o dólar norte-americano “domina há muitos anos”, disse Ricardo Reis.

O economista perspectivou que a emissão do euro digital vai aumentar a concorrência e será benéfico em termos de combate à exclusão financeira. Neste sentido, o euro digital “será muito importante na afirmação do euro como moeda global que concorre com o dólar”, concluiu o professor do LSE.

https://jornaleconomico.pt/noticias/banco-de-portugal-so-quer-cartoes-contacless-dentro-de-dois-a-tres-anos-661199

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