A organização não-governamental Transport & Environment advertiu que a Europa corre o risco de se tornar “uma linha de montagem” para fabricantes chineses de baterias, a menos que adote regulação para garantir transferência de tecnologia e de competências.
Num estudo divulgado na terça-feira, a Transport & Environment (T&E), que reúne organizações não-governamentais que promovem o transporte sustentável na Europa, alertou para o facto de as atuais parcerias entre os fabricantes de baterias chineses e as empresas automóveis europeias estarem demasiado centradas no fornecimento a curto prazo, sem qualquer quadro regulamentar para a partilha de tecnologia.
Esta dependência, a manter-se, pode gerar riscos geopolíticos e de segurança, advertiu.
“Podemos passar mais 10 ou 15 anos a tentar e a falhar com empresas como a Northvolt”, disse Julia Poliscanova, diretora da T&E, numa referência à fabricante sueca que colapsou e que era a maior esperança do continente para contrariar o domínio da China em matéria de baterias.
“Ou podemos [beneficiar] dos conhecimentos especializados existentes e utilizá-los para recuperar rapidamente, tal como os chineses fizeram nos últimos 20 anos”, acrescentou, numa referência às políticas criadas pela China para atrair fabricantes europeus de automóveis, na condição de realizarem parcerias com fabricantes locais, visando transferência de tecnologia e conhecimento.
Empresas como as chinesas BYD e CATL investiram, nos últimos dez anos, no desenvolvimento desta tecnologia, antevendo a transição do setor automóvel para o segmento elétrico.
O país asiático detém agora mais de 80% da capacidade global de fabrico de baterias para veículos elétricos e o monopólio das matérias-primas e componentes chaves necessários para a produção, ameaçando abalar o ‘status quo’ de uma indústria dominada há décadas pelos fabricantes ocidentais e japoneses.
Para colmatar esta lacuna, as maiores construtoras de automóveis europeias estão a estabelecer parcerias com fabricantes de baterias chineses para assegurar o lançamento de automóveis elétricos, a fim de cumprir regras de emissões mais rigorosas.
Em dezembro, a Stellantis anunciou que vai construir uma fábrica de baterias de lítio de 4,1 mil milhões de euros em Espanha com a CATL. De acordo com o Governo espanhol, o projeto recebeu quase 300 milhões de euros em apoios estatais. Mas não foram estabelecidas condições para a transferência de tecnologia ou de competências.
A Volkswagen também está a colaborar com a Gotion High-tech da China na construção de uma fábrica de baterias em Salzgitter, no leste da Alemanha.
O fabricante alemão tornou-se o maior acionista da Gotion, após a sua subsidiária na China ter investido mais de mil milhões de euros, em 2020, na empresa, mas sem cláusulas que exijam transferência de propriedade intelectual ou de conhecimento, de acordo com o estudo da T&E.
“Sem mais requisitos europeus, não aprenderemos. Seremos apenas uma linha de montagem”, acrescentou Poliscanova.
Bruxelas quer agora que as empresas chinesas transfiram propriedade intelectual para empresas europeias em troca de subsídios da UE e está a rever a sua regulação.
Mas os requisitos que estão a ser considerados são de uma escala muito menor em comparação com os que são aplicados na China e nos Estados Unidos, apontou o estudo.
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