As eleições em Itália com a compressão do centro e o crescimento dos extremos, nomeadamente dos eurocéticos, levam a mais um grito de alerta sobre o futuro do projeto europeu.

Os recentes resultados eleitorais em vários países europeus, deixam um rasto de preocupação quanto à ausência de projeto para países que tanto têm em comum. Esta comunidade que cresceu por cima da restauração da soberania dos Estados, em colaboração e crescimento, não pode soçobrar.

O grito antieuropeu tem partido de reações várias, de extremos divergentes em relação a falhanços nacionais e ao desenvolvimento de um espírito populista, medíocre e nacionalista. Fenómenos como o Podemos, o Syrisa, a Frente Nacional, o UKIP ou a AfD estão a atravessar sociedades moderadas e colocam em causa o sistema de partidos tradicional, oferecendo a mudança pelo radicalismo, pelo facilitismo e pelo apelo aos sentimentos mais primários.

A Europa oferece o passado que frustrou a classe média. Enquanto isso, os partidos tradicionais começam a declinar, sem proporcionar respostas, crescentemente mais exigentes de eleitores desiludidos.

O cerco ao mainstream europeu é tremendo. Trump atrai os eleitores criando a ficção de que a Europa foi oportunista e precisa de ser castigada. Os europeus mais conservadores, de esquerda e de direita, acreditam que os seus líderes gastam, indevida e incorretamente, os seus impostos em refugiados e imigrantes, que sugam a riqueza e contribuem para a instabilidade. As eleições para o Parlamento Europeu do próximo ano representam um risco e uma oportunidade.

A Europa presa nas suas contradições não se define, não se assume, não se determina numa direção unívoca. Assim, crescem as manifestações eleitorais de repúdio pelo sistema, de protestos silenciosos, exigindo a mudança que os partidos, principalmente aqueles que têm uma dimensão e representação à escala europeia, são incapazes de entender.

Ora, os partidos têm de entender urgentemente estes sinais. Interpretar e saber agir. Demonstrar que o sistema tem de ser alterado para reintegrar os cidadãos. Não estranhemos que a abstenção cresça, nem que a desilusão se instale.

Em Portugal, se este espirito não se manifestou expressivamente até agora, não podem os partidos julgar que se encontram imunes a tal sentimento. Sucessivamente, os estudos de opinião ilustram a insatisfação. Em eleições alargam-se os ausentes. A atenção que tiverem terá consequências.

Os partidos não podem ser escolhidos por serem os menos maus. As opções devem ser positivas. É preciso determinação, clareza e ambição coletiva. Não são os entendimentos e o politicamente correto que reconquistam os cidadãos. São os mecanismos de participação sistemática, o acreditar que se tem uma voz e um espaço individual. Não serão as redes sociais a fazer revoluções silenciosas, mas a capacidade que os partidos e os seus membros tiverem de recriar a ilusão, a fé e a utopia. Materializada em gente capaz.