Para um europeísta convicto, a semana trouxe três boas notícias.

1. A primeira foi a assunção, por parte do Parlamento Europeu, de uma resolução a equiparar as consequências de duas formas de ditadura: o comunismo  e o fascismo. No texto apela-se a uma cultura de memória comum europeia expurgada de dúvidas sobre os crimes cometidos. A mensagem é a de que as ideias que desaguaram no regime de Hitler e as que animaram Estaline devem provocar a mesma rejeição.

A deliberação, nem por ser uma evidência para um democrata deixa de constituir um marco. É necessário estigmatizar os novos extremistas e apontar a perversão em que descambou o sonho dos velhos flautistas dos amanhãs que cantam. Por isso era necessária. Nunca se poderá esquecer os milhões de mortes originadas pela ação de ambos os canalhas, um (Hitler) ao serviço de um delírio de conquista e “purificação” da raça e o outro (Estaline) na ânsia de abolir qualquer divergência interna na fase aguda da construção da maior utopia do século XX na então URSS.

É importante este reconhecimento – e que ele aconteça agora, quando os factos históricos se esbatem de tal maneira nas memórias que vários movimentos nacionalistas na Europa estão a desaguar em partidos relevantes defensores de ideias racistas, xenófobas, de intolerância religiosa; e, por outro lado, quando a normalização do ideal comunista e, sobretudo, o novo imperialismo da Rússia de Putin são aceites sem qualquer espírito crítico.

Ditaduras são ditaduras. Um espaço de democracia madura e convicta, como é o caso da União Europeia (UE), tem o dever de o afirmar, e lembrar, aos seus jovens. Os livros de História, neste caso, não chegam.

2. Finalmente – três anos depois e esgotado o prazo inicial de março deste ano – há acordo para o Brexit. No momento em que escrevo, esse acordo ainda é, apenas, uma intenção geral das duas partes, UE e governo britânico, a precisar de melhor definição, sobretudo no que respeita às consequências para a vida da Irlanda dividida. Mas é, finalmente, um raio de luz.

Estamos perante o triunfo do bom senso, depois do já longo processo ter vitimado dois primeiros-ministros britânicos (David Cameron, o promotor do referendo, e Theresa May) e originado dois adiamentos em relação à data inicialmente prevista para a saída do Reino Unido. A circulação de pessoas e bens no espaço europeu agradecem. A economia portuguesa também ganha com isso.

3. A última boa notícia, esta de carácter mais interno, tem a ver com o facto de António Costa ter rejeitado qualquer acordo formal com o Bloco de Esquerda para a legislatura. O pretexto é frouxo: não ser possível idêntico compromisso com o PCP. Mas a visão de fundo deve ser realçada. O PS é um partido europeísta. Durante a geringonça conseguiu ultrapassar sempre a vontade que a extrema-esquerda nacional tem de retirar Portugal dos compromissos europeus, sobretudo os decorrentes do Tratado Orçamental, em direção ao objetivo de fundo de acabar com a adesão à UE (28 países) e fomentar a saída do euro (19).

Mas a conjuntura internacional é de mudança. António Costa e o PS sabem que o caminho de recuperação económica dos últimos anos enfrenta ameaças externas e que uma aliança mais ou menos formal de governo com o BE implicaria perigos vários na relação com a Europa. O BE passou a fazer birra e a cooperação política à esquerda fica ameaçada para os próximos quatro anos, mas o PS tem várias possibilidades para acordos, também ao centro e à direita. Aqueles que digam respeito à Europa e aos restantes compromissos internacionais (como a NATO) podem ser geridos com PSD, CDS, PAN e não só. É melhor assim.