Na mesma semana, Emmanuel Macron e Angela Merkel visitaram a Casa Branca. Um exuberante, a outra discreta, ambos ansiando respostas do seu anfitrião. Em causa, a definição de posição ao anunciado projeto de tarifas aduaneiras sobre produtos europeus. Ambos voltaram para casa de mãos vazias.

Conseguiram uma moratória de 30 dias, embora a administração Trump se mostre inflexível na fixação de novas barreiras alfandegárias, o que prenuncia uma iminente guerra comercial com o mundo, principalmente com a Europa, velho aliado estratégico de décadas.

Nunca tanto como agora a política interna americana impacta estrategicamente no panorama internacional, e a política e a economia se entrelaçam, conjugando-se para alcançar resultados. Os políticos europeus redescobrem assim uma necessidade imperiosa de se entenderem e de adotarem uma posição conjunta face a esta ação vertiginosa.

Donald Trump dá a tática e fixa os argumentos, quando declara que a União Europeia (UE) foi criada para se aproveitar dos Estados Unidos(?) – o que serve para consumo interno, na via populista e propagandística que usa para justificar as suas posições, e fornece o mote para o impacto.

Renegando os fundamentos do comércio internacional, com razões assentes no imediatismo do “America first”, dir-se-ia mesmo, “America only”, esta estratégia tem produzido resultados eficazes perante outros parceiros como a Coreia do Sul ou o Japão, que não tendo a dimensão da China ou da UE, titubeiam e cedem, para manter mercado.

A China, cujo superavit comercial com os EUA é avassalador, dispõe de uma direção política única e de uma capacidade de reação que lhe permitirá encaixar as mudanças que lhe impõem e de responder em conformidade.

Já a UE, cheia de boas intenções e sempre eticamente irrepreensível, declara que não negoceia sob pressão. Mas desde logo demonstra estar disponível para negociar, indo ao encontro das hostilidades abertas por Trump. Mais do que isso, dá o flanco quando os seus lideres mais carismáticos se deslocam ao terreno do adversário e de lá voltaram com as mãos cheias de nada e de coisa nenhuma.

Inicialmente, os líderes europeus pensaram que a ameaça de Trump era bluff. Com o tempo começaram a perceber, pressionados pelos seus exportadores, que a situação era séria. E em vez de conduzirem a discussão para o seio da Organização Mundial do Comércio, do G-20 ou do G-8, deixam-na resvalar para a dimensão bilateral.

Será tempo de a UE assumir de uma vez por todas uma estratégia única e indissolúvel neste desafio, juntando aqui também política e economia. Divididos, serão vencidos. Numa verdadeira união, terão de ter a coragem de assumir uma verdadeira guerra comercial, dolorosa e com efeitos políticos internos.

Neste cenário, a discreta e dura Merkel, o sorridente e emotivo Macron e o experimentado Jean-Claude Juncker, vão ter de agregar sagacidade, inteligência e paciência chinesa para jogar este jogo com o imprevisível, mas esperto Donald. O mês de maio é, pois, decisivo.