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“Europa tornou-se essencialmente irrelevante”, diz o primeiro-ministro israelita

Benjamin Netanyahu disse em entrevista à agência Euronews que o reconhecimento do Estado da Palestina é um favor aos islamitas e está à espera que os Estados que o fizeram sejam “realistas” e voltem atrás com a decisão.
Atef Safadi/Reuters
6 Outubro 2025, 07h00

Em entrevista à Euronews, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, criticou a posição da Europa sobre a estratégia de Israel em Gaza e a visível ausência da União Europeia no processo do plano de cessar-fogo, apresentado sob a liderança do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A Europa, ausente do plano de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, “basicamente cedeu ao terrorismo palestino e às minorias islâmicas radicais”, disse Netanyahu. “É por isso que a Europa se tornou essencialmente irrelevante e demonstrou enorme fraqueza”, afirmou ainda, acrescentando que foi Donald Trump quem assumiu a liderança e a iniciativa do acordo de cessar-fogo “realista”. “O que deve ser feito é exatamente o que o presidente Trump está a fazer. Apresentou um plano de paz realista que elimine os elementos terroristas, os elementos que querem continuar a guerra e que prometem repetir o massacre de 7 de outubro uma e outra vez.”

Netanyahu criticou a decisão de 15 dos 27 estados-membros da União de reconhecerem o Estado palestiniano, voltando a chamá-la “uma recompensa aos islâmicos” – repetindo com outra palavra o que já tinha dito antes: recompensa aos terroristas ou aos assassinos. A Europa disse: vamos dar-lhes um Estado palestiniano, que seria a recompensa máxima para o Hamas depois de cometer o maior massacre contra os judeus desde o Holocausto”, disse Netanyahu. E alegou que essa decisão causou “enormes danos” não apenas para Israel, mas a todo o Médio Oriente.

Aparentemente falando a sério, Netanyahu disse: “imagine que, depois do 11 de Setembro, as pessoas diriam: ‘ok, agora vamos dar um Estado a Osama Bin Laden e à Al-Qaeda. Não só lhes daremos um Estado, como ele ficará a 1,6 km de Nova Iorque”. Netanyahu insistiu que isso não “irá promover a paz”. “Primeiro há a força, depois há a paz”, explicou. “O que esses líderes europeus estão a dizer é: vamos enfraquecer Israel a ponto de ele lutar pela sua sobrevivência contra outro Estado palestiniano, desta vez bem nos arredores de Jerusalém, na verdade, dentro de Jerusalém, e logo acima das colinas de Telavive. Isso é um absurdo”, apontou Netanyahu.

Neste contexto, o primeiro-ministro de Israel disse que espera que os países europeus que reconheceram o Estado da Palestina “repensem” essa decisão. “Preferiríamos ter não apenas boas relações com a Europa, mas boas relações com uma Europa realista, que trouxesse paz real, em vez da repetição de uma guerra horrível”, disse Netanyahu – explicando que está constantemente em contato com governos europeus. “Espero que a Europa mude de direção. Parte dela mudou, mas parte não”, disse Netanyahu. “Espero que a parte que não mudou repense, não só para o nosso bem, mas também para o bem da Europa.”

Recorde-se que a União Europeia acolheu de forma muito positiva o mais recente esforço de cessar-fogo e o plano iniciado por Donald Trump, descrevendo esse plano como encorajador e dizendo que o momento deve ser aproveitado. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, acrescentou que o bloco está pronto para apoiar os esforços para acabar com o sofrimento civil e promover a única solução viável para a paz, que acredita ser a solução de dois Estados.

A União anunciou recentemente que suspenderá o seu “apoio bilateral” a Israel e suspenderá parcialmente o acordo de associação com Israel. Mas isso foi antes do anúncio de Trump. De então para cá, a proposta parece ter desaparecido – não tendo sido alvo, que se saiba, de qualquer desenvolvimento na cimeira de Copenhaga. Além disso, recorda a agência, a medida requer uma maioria qualificada entre os 27 Estados-membros, enquanto vários países, entre eles a Alemanha, Itália, Hungria e Chéquia, têm bloqueado continuamente os esforços para sancionar Israel.

Recorde-se que, este sábado, o exército israelita anunciou que prosseguirá com a primeira etapa da proposta de Donald Trump de encerrar a guerra em Gaza. De acordo com a imprensa de Israel, o exército mudou para uma posição exclusivamente defensiva em Gaza, apesar de nenhuma parte do contingente militar ter abandonado o enclave. A notícia surgiu horas depois de Trump ter ordenado, ou talvez aconselhado, a que Israel parasse de bombardear Gaza, após o Hamas afirmar ter aceitado parte do plano. “Acredito que eles estão prontos para uma paz duradoura”, comentou Trump.

Uma alta autoridade egípcia disse que as negociações estão em andamento para a libertação de reféns, bem como de centenas de prisioneiros palestinianos detidos em Israel. A mesma fonte disse que os mediadores árabes estão a preparar um diálogo abrangente entre os palestinianos com o objetivo de unificar a sua posição em relação ao futuro de Gaza. Também este sábado, a Jihad Islâmica, o segundo grupo militante mais poderoso em Gaza, declarou aceitar a resposta do Hamas ao plano de Trump, dando mostras de um alinhamento que é precisamente aquilo que os medidores pedem.

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