A Apple já vale o dobro da capitalização da bolsa da Alemanha, o DAX 30. Nas últimas semanas temos assistido ao que parece ser o regresso à loucura nos mercados financeiros, com foco nas empresas tecnológicas. Nesta revolução digital, a Europa continua a perder importância e a ficar dependente dos EUA ou da China.
A pandemia acelerou e antecipou em pelo menos cinco anos a adopção e aceitação de processos tecnológicos, como o ensino e o trabalho à distância, a identificação e verificação de identidade, a utilização de servidores remotos, os pagamentos digitais, a utilização de softwares de reconhecimento escrito e facial, entre outros, mas acima de tudo antecipou as consequências das desigualdades que se esperavam dentro de duas décadas.
A debilidade dos países europeus, com uma população envelhecida, ficou demonstrada na fragilidade dos sistemas de saúde e de segurança social, que, sem o apoio do BCE, estarão falidos, ficando este último incapaz de fazer face aos pagamentos de pensões.
Enquanto a Europa está ocupada a legislar com directivas atrás de directivas, só esta semana foram publicadas mais duas directivas – a dos accionistas e a 5ª directiva de branqueamento de capitais –, a China e os EUA querem saber como ganham dinheiro e fazem a sua sociedade prosperar. Infelizmente, por aqui, continuamos distraídos a criar taxas Tobin para negociar no mercado de capitais e a aumentar os reportes legais e os custos de regulação, enquanto o capital ruma aos EUA ou ao Oriente, onde é investido e dá cada vez mais poder às empresas locais.
Para além do acesso mais caro ao mercado, o investidor europeu tem ainda outro desafio – os impostos. Uma verdadeira punição e dor de cabeça, seja o imposto sobre as mais valias, seja sobre dividendos, para além da sujeição à dupla tributação na distribuição de dividendos de empresas europeias. Um filme de terror que apenas criou uma indústria de recuperação de impostos pagos em excesso. Sim, temos de pagar para receber o que pagámos a mais. É deveras confuso!
Mais grave ainda é que a Europa não está a participar nesta negociação do novo Tratado de Tordesilhas entre os EUA e a China. Pelo contrário. Perguntamos onde estão os campeões da Europa, as empresas que valerão um bilião de euros e darão cartas a nível internacional. Contam-se pelos dedos as empresas europeias de elevada capitalização e, curiosamente, não encontramos uma única rede social! Até a polémica venda da rede social TikTok está a ser liderada pelo interesse das empresas americanas, que perceberam há muito a importância dos dados, das nossas preferências, das nossas publicações, no seu plano de negócios.
A classe dirigente na Europa, quer política (Parlamento Europeu e Comissão Europeia) quer económica (BCE), é doutorada em burocracia e entende pouco ou nada sobre o funcionamento e dificuldades da gestão de uma empresa e da economia. Neste navio a afundar apenas conhecem uma realidade, a impressão de dinheiro.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.