[weglot_switcher]

Europeias: Frontex deve ser “pragmática” e não “super ONG humanitária” – ex-diretor

O ex-diretor executivo da Frontex, a agência da União Europeia (UE) responsável pelas fronteiras, e candidato da extrema-direita francesa às eleições europeias, rejeita que o organismo seja uma “super ONG humanitária”, defendendo “pragmatismo” na gestão migratória.
Frontex’s Executive Director Fabrice Leggeri presents the annual report of the EU’s border agency in Brussels, Belgium January 17, 2020. REUTERS/Francois Lenoir
12 Maio 2024, 10h48

“Esta é uma luta política e cultural que começou há vários anos, entre aqueles que defendiam que a Frontex deveria ser uma espécie de super ONG, uma super ONG humanitária, e aqueles que defendiam que a Frontex é uma agência para aplicação da lei, que é o meu caso”, afirma o ex-diretor executivo da Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex), em entrevista à agência Lusa em Bruxelas.

Após ter exercido o cargo de 2015 a 2022, quando se demitiu sob acusações de desrespeito dos direitos humanos feitas por organizações não-governamentais (ONG), Fabrice Leggeri concorre agora pelo partido de extrema-direita francês União Nacional às eleições europeias de junho. É o terceiro na lista.

Nesta entrevista à Lusa, o responsável defende o papel da Frontex enquanto “autoridade de aplicação da lei que é aceite pelas autoridades nacionais, como uma autoridade de guarda de fronteiras fiável, competente e profissional”.

“Desenvolveram uma narrativa […] de que, moralmente, é mau impedir os imigrantes de entrarem e atravessarem ilegalmente a fronteira”, mas “é preciso sermos realistas e pragmáticos: isso não funciona”, vinca Fabrice Leggeri, sugerindo desembarques para países terceiros (como Turquia ou Marrocos) e apertados controlos nas fronteiras externas da UE.

“As ONG extremistas afirmam que os migrantes têm direitos incondicionais, mas e o direito dos Estados-membros da UE em protegerem a fronteira? Porque é em Schengen [espaço europeu de livre circulação] que os Estados-membros devem impedir a passagem ilegal das fronteiras externas”, adianta o responsável à Lusa.

Fabrice Leggeri diz à Lusa ter sofrido “chantagem política” da Comissão Europeia e do governo francês para se demitir e admite que, hoje em dia, a sua visão “é mais estrita” no que toca à gestão migratória.

Demitiu-se do cargo em abril de 2022 após um inquérito do Organismo Europeu de Luta Antifraude sobre alegações de assédio, conduta imprópria e afastamento ilegal de migrantes.

O responsável foi também alvo de fortes críticas de ONG, que acusaram a Frontex de desrespeito dos direitos humanos e de complacência com autoridades gregas em práticas que violam a lei internacional, por alegada rejeição de assistência a embarcações de migrantes à deriva e alegadas operações para impedir a sua chegada às fronteiras externas da União.

A Frontex foi criada em 2004 para ajudar os Estados-membros da UE e os países associados de Schengen a proteger as fronteiras externas do espaço de livre circulação, tendo nos últimos anos sido consideravelmente reforçada.

Na entrevista à Lusa, Fabrice Leggeri defende o fim da “migração ilegal descontrolada” na UE e considera que o recentemente aprovado Pacto de Migração e Asilo “não aborda as causas profundas do problema e não dá resposta”.

Em meados de abril passado, após quatro anos de discussões, o Parlamento Europeu deu ‘luz verde’ final à vasta reforma da política de migração e asilo da UE, que prevê o combate à imigração ilegal e uma solidariedade obrigatória entre os Estados-membros.

Previsto está controlo reforçado das chegadas de migrantes à UE, transferências mais rápidas dos que não têm direito a asilo e um mecanismo de solidariedade obrigatório em benefício dos Estados-membros sob maior pressão migratória.

A adoção final do pacote completo está prevista para este mês de maio.

De acordo com a Frontex, no ano passado o número de travessias irregulares para a UE foi o mais alto desde 2016, ultrapassando as 355 mil, um aumento de 17% relativamente a 2022.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.