Temos presenciado com maior frequência a ocorrência de eventos extremos que estão mais identificados com as alterações climáticas, e para os quais não estamos verdadeiramente preparados.

Estes fenómenos com impacto social, económico e financeiro acabam por colocar em causa a sustentabilidade da sociedade, aumentando a assimetria, uma vez que o seu impacto tem maior peso nas classes sociais mais carenciadas.

No entanto, a sociedade como um todo está a entrar num outro evento extremo pouco falado – o declínio da humanidade –, para o qual precisamos de respostas urgentes.

Este ano passámos o marco dos oito mil milhões de pessoas a viver no planeta, o que obriga a um planeamento mundial para que a sociedade não colapse, sobretudo ao nível da solidariedade intergeracional.

Por um lado, o consumo de energia, alimentos, produtos, continuará a aumentar, não apenas pelo aumento da população, mas também pela melhoria das suas condições de vida, que trazem consigo a ambição de consumir mais e melhor.

Por outro, existe uma maior probabilidade de ocorrerem pandemias e conflitos, paralelamente à degradação do ambiente e ao aumento dos custos com a segurança social.

O envelhecimento da população tem grandes consequências para a sociedade, com a consequente necessidade de adaptação de infra-estruturas, sistemas de saúde, segurança social, educação e justiça, e também no que respeita à sustentabilidade das finanças públicas.

Será criada toda uma nova economia devido a esta necessidade natural que é o envelhecimento, mas há que prevenir para que não seja à custa da destruição da economia existente.

Se nada for feito ao nível dos sistemas nacionais de saúde, a procura por seguros de saúde, por forma a garantir assistência, continuará a aumentar, tendo como consequência o aumento do preço. Este mecanismo natural de ajuste entre oferta e procura acabará, uma vez mais, por aumentar o fosso da desigualdade.

O mesmo se pode dizer da segurança social. 2022 foi um ano atípico nos mercados financeiros, com as obrigações e acções a desvalorizarem simultaneamente de forma expressiva, o que apenas aconteceu quatro vezes nos últimos 90 anos.

Ou seja, as aplicações em dívida pública que nos últimos anos tinham rendido uma boa almofada financeira ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS), irá desaparecer este ano, agravando o potencial desequilíbrio das pensões e colocando na ordem do dia a necessidade de analisar soluções para garantir que a reforma é um tempo passado sem necessidades.

Para isso, são necessárias medidas a nível nacional, mas também a nível europeu, para garantir um mínimo de sobrevivência, porque é disso que estamos a falar.

Quando se perspectiva que a pensão venha a equivaler a 43% do último salário, em 2050, há que pensar em soluções que permitam às famílias e empresas constituir complementos de reforma, desonerando o Estado de um custo futuro que não tem capacidade de financiar, sem ser por dívida ou impostos.

Quanto mais depressa iniciarmos este debate do evento extremo que é o envelhecimento, melhor, pois só assim se conseguirá minimizar os impactos para as diferentes gerações e garantir um amplo consenso na sociedade.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.