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Ex-militares procuram 2 milhões para financiar mini-eólicas

Para poupar energia no seu quartel, criaram umas turbinas rudimentares. Acabaram por descobrir um projeto que ganhava pó há 15 anos numa universidade. Querem agora democratizar o acesso a energia verde e barata e estão a angariar financiamento para dar energia de dia e de noite a famílias, empresas, embarcações e até a militares.
9 Março 2025, 09h00

Dois militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) puseram um dia mãos à obra para baixar o consumo energético do seu quartel que já tinha painéis solares, mas era preciso algo mais.

Já com painéis solares instalados, o quartel fica numa zona ventosa e decidiram rentabilizar o vento disponível recorrendo a turbinas eólicas caseiras, com a ajuda de muito engenho.

“O quartel tem uma tradição de engenharia. E como militares que somos, começámos a fazer nós mesmos umas turbinas muito arcaicas. Não havia ainda nada no mercado”, começou por contar ao JE António Santos (à direita na foto) que fez o projeto em parceria com Filipe Fernandes (à esquerda na foto).

O palco foi o quartel da Unidade de Intervenção (UI) da GNR na Pontinha, distrito de Lisboa, antigo Regimento de Engenharia nº1, onde chegou a estar instalado o posto de comando do Movimento das Forças Armadas (MFA) no pós-25 de Abril.

As turbinas foram idealizadas e produzidas com a ajuda de impressoras 3D e chegaram à final do Climate Launchpad que premeia projetos inovadores na área da transição energética.

“Percebemos que isto tinha pernas para andar e começámos a pesquisar sobre turbinas eólicas de forma mais aprofundada. E houve um nome português que vinha sempre à baila: Nelson Baptista”, acrescenta.

Nelson Baptista tinha desenhado uma mini-eólica para a sua tese de doutoramento há 15 anos, “só que na altura não havia investimento nem preocupação como há hoje com as energias renováveis. O projeto nunca teve pernas para andar, mas foi constantemente aferido porque a turbina estava na prateleira do Técnico e os alunos de aerodinâmica tiravam a turbina, estudavam-na, mediam-na e comparavam os números com os que já lá estavam. Todos os anos faziam a mesma coisa. Isto está mais do que cientificamente comprovado”.

Nascia assim a Windcredible, que tem recebido investimento da Portugal Ventures, da Tech Stares e de um business angel do norte do país. Filipe Fernandes, António Santos e Nelson Baptista são hoje o coração deste projeto.

A companhia implementou projetos-piloto com a EDP, Galp, Porto de Lisboa (torre VTS à entrada da barra do Tejo), e a Nestlé.

O próximo passo é angariar financiamento na ordem de 2 milhões de euros. “Temos projetos desenvolvidos, já desenhados por nós, que podemos implementar assim que conseguirmos a verba”.

Mas o que é que esta turbina tem de especial? “Capta o vento em todas as direções. É uma peça única e robusta. Não produz ruído nem vibração”.

“Agora sim, podemos ter uma turbina eólica no telhado de casa, produzir energia onde ela é consumida. Tem feito muita falta, principalmente com o aumento dos veículos elétricos, quando temos de os carregar durante a noite e os painéis solares não conseguem colmatar essa diferença”, afirmou na conversa com o JE, adiantando que é possível acoplar a turbina com painéis solares para gerar mais energia.

Com três diferentes tamanhos, a turbina pode ser usada também para “caravanismo, embarcações, ou para fins militares”, exemplifica.

O modelo urbano conta com dois metros de pá, em linha com a legislação em vigor, que permite instalar até cinco metros acima do edifício sem pedir autorização camarária.

Para o futuro, o objetivo é ter um “modelo de dez metros de pá, com 25 kilowatts para centrais solares” para uma utilização por empresas.

A companhia tem o objetivo de produzir um total de 60 pilotos e depois acelerar a produção para começar a vender para o público em geral, com preços de produção mais baixos.

As pás estão a ser fabricadas pela Xiraplás em Vila Franca de Xira que produziu as capotas para a Mitsubishi Pajero. “Estão a usar a mesma metodologia para produzir as nossas pás. Acreditamos que vão durar tanto tempo como essas capotas rígidas”.

A companhia esteve presente em novembro pela terceira vez na Web Summit “à procura de investidores que nos possam ajudar a alavancar o nosso projeto e que queiram fazer parte desta tecnologia pioneira”.

A Windcredible também conta com um projeto na Cova da Moura, bairro da Amadora, onde António Santos cresceu, tendo origem cabo-verdiana. “Sou nascido e criado na Cova da Moura. Sempre quis devolver à sociedade. E queria criar um exemplo que as crianças possam seguir”. A companhia instalou uma turbina eólica, numa parceria com a EDP, na Associação de Solidariedade Social da Cova da Moura.

O cabo António Santos, que conta com 20 anos de carreira na GNR, explica que encontra-se atualmente de licença da força de segurança, enquanto o capitão Filipe Fernandes decidiu sair da Guarda.

A turbina nano conta com 100W de potência e destina-se para fins de lazer. A urbana com 1 KW e destina-se a residências, empresas ou comunidades de energia. A turbina maior tem 10 KW e destina-se a centrais solares ou eólicas.

A empresa aponta que a turbina poupa entre 20% a 50% do consumo de eletricidade.

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