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Ex-presidente e nobel da Paz polaco Lech Walesa está falido devido à pandemia de Covid-19

Até meados de 2020, o ex-presidente e ícone do movimento anticomunista na Polónia ‘Solidarnosc’ ganhava a vida com o lucrativo circuito internacional de palestras. Desde então, diz ele, as restrições de viagens motivadas pela pandemia de Covid-19 colocaram-no à beira da falência.
  • GDANSK, POLAND – JULY 18: Former Polish president Lech Walesa during a visit to the European Solidarity Centre and Monument to the Fallen Shipyard Workers of 1970 in Gdansk, the birthplace of Poland’s Solidarity movement that helped topple Communist rule on July 18, 2017 in Gdansk, Poland. (Photo by Dominic Lipinski / Pool / Getty Images)
10 Janeiro 2022, 16h00

O ex-presidente polaco Lech Walesa diz estar falido devido à pandemia de Covid-19. Aos 78 anos, o ícone polaco era conhecido pelas suas palestras motivacionais que o levaram em viagens por todos os continentes, sendo precisamente esse o seu ganha-pão. Com as restrições de viagens aliadas aos múltiplos cancelamentos de eventos, Walesa diz estar à procura de emprego, tendo inclusive colocado um anúncio num portal para o efeito, segundo o “DW”.

Até meados de 2020, o ex-presidente e ícone do movimento anticomunista na Polónia ‘Solidarnosc‘ (Solidariedade), Lech Walesa, ganhava a vida com o lucrativo circuito internacional de palestras. Desde então, diz ele, as restrições de viagens motivadas pela pandemia de Covid-19 colocaram-no à beira da falência.

“Eu tinha muitas viagens planeadas. Deveria voar para Itália, Alemanha, Estados Unidos e outros lugares e, infelizmente, todas foram canceladas”, disse Walesa.

São poucas as pessoas que falam polaco no circuito internacional de palestras de língua inglesa, embora Walesa seja um nome reconhecido no estrangeiro, segundo um académico polaco citado pelo “DW”: “É ele, [Donald] Tusk e [Robert] Lewandowski, mas poucos chegam perto”.

A experiência do polaco em “questões orientais”, como a Ucrânia, elevou o das suas palestras políticas desde 2014. Mas o que fontes do sector chamam de “cansaço da guerra cultural” diminuiu a procura por opiniões. Walesa nunca teve vergonha de dizer o que pensa, às vezes de maneiras que podem não ser consideradas politicamente corretas.

“Estou falido porque recebo seis mil zlotys (entre 1.280 a 1.450 euros) por mês da minha pensão e a minha esposa gasta sete mil zlotys todos os meses”, afirmou Walesa. Com o avançar da pandemia, Walesa decidiu aumentar o seu cachet para 18 mil zlotys por mês.

“Ganhei muito dinheiro com capitalistas ocidentais”, referiu o nobel da paz. Um serviço de reserva para oradores principais estava a propor palestras de Walesa entre 50 mil dólares (44 mil euros) a 100 mil dólares (88,3 mil euros).

O ex-presidente da Polónia também complementava a sua receita de palestras oferecendo sessões de liderança, reuniões motivacionais para empresas e serviços promocionais. Uma reunião de uma a duas horas tinha o preço mínimo de 20 mil zlotys (4,4 mil euros).

Esta não é a primeira vez que Walesa enfrenta problemas financeiros. Em fevereiro, disse que estava a procurar trabalho adicional, pois a pandemia estava a influenciar negativamente as suas finanças.

“Mais seis meses e terei de ir pedir dinheiro à frente da igreja ou retomo o trabalho como eletricista”, a sua profissão original, disse.

Em abril, Walesa escreveu que estava à procura de emprego e publicou um anúncio no portal flexi.pl, para pessoas com mais de 50 anos em busca de emprego.

Na publicação lê-se: “Um líder experiente, grande orador, vencedor do prémio nobel da Paz, presidente da República da Polónia 1990-1995, cofundador e primeiro presidente do NSZZ Solidarnosc, conduz reuniões e treinos com lideranças, aceita convites para palestras motivacionais em empresas , mas também para famílias, possíveis serviços promocionais adicionais, fotos conjuntas e autógrafos”.

Circuito internacional de speakers afetado pela pandemia de Covid-19

Para muitos dos contemporâneos de Walesa na década de 1990, como Bill Clinton, Gerhard Schroeder, Tony Blair, entre outros, o circuito de oradores surgiu como uma boa oportunidade de continuarem a ganhar dinheiro através de viagens por todo o mundo, maioritariamente para regimes financiados por combustíveis fósseis não totalmente democráticos.

Os eventos podem ser bastante lucrativos. Hillary Clinton, que ingressou no circuito após deixar o cargo de secretária de Estado em 2013, cobra 225 mil dólares por palestra, segundo o “DW” que, no caso da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, afirma que encaixou sete milhões de dólares (6,1 milhões de euros) em honorários de palestras durante dois anos de grandes multinacionais, fundos de investimento e bancos de Wall Street.

Os fundos soberanos são dos que mais pagam pelas palestras, em busca de uma combinação de perceção do mercado e histórias de bastidores. O banco de investimento Goldman Sachs é um dos mais conhecidos agentes de reservas de speakers. No entanto, a sua série “Talks with GS” não incluiu nenhum político desde o início de 2020.

“É um grande mercado. Globalmente, vários milhões de dólares. O maior mercado são os Estados Unidos”, disse Tom Kenyon-Slaney, presidente do London Speaker Bureau, ao “DW”. “Multinacionais e governos gostam de receber pessoas experientes de alto nível para conversar ou mesmo aconselhá-los”, acrescentou Kenyon-Slaney.

“O nosso sector fez a transição para o virtual durante a pandemia de Covid-19 e isso tem sido bom para todos. Ainda que os honorários dos oradores ficaram mais baixos, os eventos e as conferências continuaram, embora online”, referiu Kenyon-Slaney.

Já Nick Gold, diretor da Speakers Corner, disse que o sector está avaliado em cinco mil milhões de dólares (4,4 mil milhões de euros). “Não existe uma tabela de preços dos speakers. Em última análise, é um mercado onde não há barreiras de entrada. Afinal, qualquer um pode dar palestras e, como todos nós temos as nossas próprias experiências e especialidades únicas, isso pode ser considerado um afirmação legítima”, disse ele “DW”.

Ele acrescentou que ninguém poderia ter previsto a pandemia e o impacto que ela teria na indústria.

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