“Nunca ninguém conseguiu alcançar o sucesso simplesmente fazendo o que lhe é solicitado. É a quantidade e a excelência do que está além do solicitado que determina a grandeza da distinção final.” – Charles Kendall Adams (1835-1902)
Hoje todos nós (ou quase todos) somos avaliados. Aliás, começamos a sê-lo mesmo antes de nascer.
Quando ainda não nascemos, é o pediatra que começa a avaliação. Diria, “modernices actuais”, porque há cinquenta ou mais anos, mulher que se prezasse, tinha o filho em casa e era o “médico da caixa”, pau para toda a obra, que opinava sobre o estado da gestação, ou sobre uma gripe ou ainda a varicela, o sarampo, a tosse convulsa e a papeira.
À medida que vamos crescendo, as avaliações vão-se sucedendo – escola primária, secundária, universidade e, por fim, o trabalho. Qualquer processo de avaliação confronta dois actores: o avaliado e o avaliador. Quer um quer outro terão que ser possuidores de características intrinsecamente fortes, para que o resultado final seja de eleição.
Desde logo, o avaliador tem que ser exigente e rigoroso, para que o output final não seja menos do que excelente. Ao avaliado compete reger-se pelos mesmos parâmetros, à luz dos quais o avaliador o irá classificar, para ser excelente.
O problema da sociedade portuguesa, começando logo na Escola e passando mais tarde para o mundo do trabalho, é que, regra geral, não é suficientemente exigente. Tolera os medíocres e os suficientes com uma ligeireza impressionante. Em geral, não promove os caminhos da exigência e do rigor, para que possam aparecer os bons e os excelentes. Encontramos exemplos de excelência, mas que depois de aprofundadas as raízes, chega-se à conclusão que essa promoção não foi feita no nosso país, ou, caso tenha sido, aconteceu em ambiente de empresas ou de outras instituições internacionais, onde a excelência é perseguida de forma contínua e permanente.
Nunca poderemos aspirar ser competitivos face aos parceiros que nos rodeiam se, de uma vez por todas, não tivermos coragem para eliminar todas as situações de mediocridade e mediania. Numa sociedade cada vez mais global, em que a luta pela sobrevivência económica, financeira, cultural e social se vem tornando cada vez mais apertada, só uma cultura de grande exigência pode, na realidade fazer a diferença – entre quem sobrevive e quem fica irremediavelmente para trás.
As sucessivas reformas do ensino são um exemplo acabado do que não deve fazer-se. Os alunos cada vez sabem menos e a exigência(?) é cada vez menor. No mundo do trabalho, as condições pouco inteligentes a que as entidades empregadoras sujeitam os seus colaboradores, particularmente os jovens, também não encorajam um output de excelência. Até dá a ideia, e impressão, que estamos num país a navegar à bolina, em que todos se preocupam exclusivamente com o curtíssimo prazo, que é como quem diz, com o dia-a-dia, sem quererem criar raízes que sustentem e consolidem o longo prazo, abandonando definitivamente os padrões de grande relevância.
Para os grandes agentes decisores portugueses, uma palavra: promovam activamente a cultura do rigor e da exigência para, em vez de medíocres e medianias, termos bons e excelentes, verdadeiros motores da diferenciação positiva de que o país tanto necessita.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.