Rui Pinto vai ser extraditado para Portugal nesta quinta-feira, 21 de março, revelou ao Jornal Económico fonte conhecedora do processo. Assim que pisar o território nacional, será ouvido pelo juiz de instrução que irá decidir as medidas de coação: prisão preventiva ou domiciliária. Com o regresso de Rui Pinto, e o envio dos suportes informáticos apreendidos na Hungria, poderão vir a ser abertas novas investigações, inclusive ao caso dos emails do Benfica.
No passado dia 14 de março, as autoridades judiciais da Hungria indeferiram o recurso da defesa de Rui Pinto para tentar evitar a extradição já decidida pelo tribunal há duas semanas. Com esta decisão, foi sinalizado que o pirata informático português deveria chegar a Portugal num prazo “entre quatro a oito dias”. A data, entretanto, acordada entre as autoridades judiciais dos dois países é a de 21 de março.
Até ao momento, sabe o JE, ainda não foi pedido qualquer pedido de proteção especial. Uma medida que pode ser requerida tanto pelo Ministério Público como pela Defesa, mas apenas quando o processo estiver em Portugal.
Ainda que a detenção do português tenha sido associada ao caso dos e-mails do Benfica – um caso que extremou as relações entre ‘encarnados’ e o Futebol Clube do Porto -, o clube da Invicta e o clube da Luz não estão envolvidos nas acusações que são imputadas a Rui Pinto.
Já o Sporting é implicado, uma vez que terá sido uma das vítimas do hacker. Um dos crimes de acesso ilegítimo de que Rui Pinto está acusado, refere-se à correspondência privada do departamento jurídico do clube leonino. O outro crime de acesso ilegítimo implica o fundo de investimento Doyen Investment Sports, sedeado em Malta, que permitiram ao hacker português divulgar documentos confidenciais como contratos de jogadores do SCP e do então treinador Jorge Jesus ou celebrados entre a ‘Doyen’ e várias sociedades anónimas ligadas ao futebol.
O mesmo fundo terá sido alvo de extorsão, outro dos crimes imputados ao português. Alegadamente, um dos representantes do fundo da Doyen terá sido contactado por Rui Pinto, que terá exigido até um milhão de euros para não divulgar e-mails a que teve acesso de forma ilegítima.
As autoridades portuguesas acusam-no da prática de seis crimes: dois de acesso ilegítimo, dois de violação de segredo, um de ofensa a pessoa coletiva e ainda uma tentativa de extorsão.
Rui Pinto foi detido na capital da Hungria a 16 de janeiro deste ano, na sequência de um mandato de detenção europeu emitido pelas autoridades portugueses. Segundo um comunicado desse dia da Polícia Judiciária (PJ), tratou-se de uma operação de detenção em cooperação com a polícia húngara.
Dois dias depois, a 18 de janeiro, foi colocado em prisão domiciliária – até 14 de março. Desde então, a defesa de Rui Pinto considera-o “um importante denunciante europeu no âmbito dos chamados Football Leaks”. “Muitas revelações feitas ao abrigo destas partilhas de informação estiveram na origem da publicação, durante vários anos, de notícias que deram lugar à abertura de muitas investigações em França e noutros países europeus”, acrescentaram os advogados, em comunicado, aquando da revelação da identidade do detido na operação da PJ com a congénere húngara.
PJ admite novas investigações, incluindo aos emails do Benfica
Com o regresso de Rui Pinto, e o envio dos suportes informáticos apreendidos na Hungria, poderão vir a ser abertas novas investigações, inclusive ao caso dos emails do Benfica.
Segundo a mesma fonte, a Polícia Judiciária (PJ) vai iniciar agora uma nova fase no inquérito em curso que poderá dar origem “a outro tipo de investigações mediante o os dados que forem extraídos” do computador e dos discos rígidos que foram apreendidos na Hungria. Tudo dependerá, diz, dos dados que vierem a ser extraídos, os quais os investigadores “estão bem cientes do tipo de informação que pode haver nesses suportes” .
Em causa está informação que prende-se com acessos ilegítimos por parte do pirata informático português, não excluindo ainda os investigadores que possam vir a ser encontrados dados relativos ao caso dos emails do Benfica que começaram a ser revelados, em junho de 2017, por Francisco J. Marques, diretor de comunicação do FC Porto, no programa ‘Universo Porto da Bancada’, do Porto Canal. Este responsável denunciou emails que terão sido trocados entre Adão Mendes, antigo árbitro da Associação de Futebol de Braga, e Pedro Guerra, na altura diretor de conteúdos da Benfica TV, salientando que os mesmos configuram um “esquema de corrupção [na arbitragem] para beneficiar o Benfica”.
Em janeiro do ano passado, o Ministério Público (MP) confirmou que juntou os inquéritos dos vouchers e dos emails do Benfica num só processo, pela existência de “matéria e personagens coincidentes a ambas as investigações”. Uma decisão que surgiu depois de em outubro de 2017, a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL) ter revelado a investigação a um suspeito pelos crimes de corrupção passiva e activa, por parte da nona secção do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, no referido caso dos emails do Benfica.
Esta investigação levou a buscas nas instalações do Benfica, na sequência de denúncias do director de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, que acusou os “encarnados” de influenciarem o sector da arbitragem e apresentou alegadas mensagens de correio electrónico de responsáveis daquele clube, nomeadamente de Paulo Gonçalves e Luís Filipe Vieira.
Os investigadores preparam-se, assim, para extrair dados do computador de Rui Pinto, depois de a sentença de extraditar Rui Pinto para Portugal abranger igualmente os equipamentos eletrónicos que lhe foram apreendidos.
Rui Pinto tem argumentado junto da justiça húngara que é “um alvo a abater” por parte de quem está envolvido nos negócios que ele denunciou e que em Portugal não estará seguro.
Dados de Football Leaks também na mira da polícia
Na mira da PJ está ainda “informação que esteja a circular sobre o futebol, nomeadamente no site do Football Leak”.
O Football Leaks é o dossier que envolve vários casos de corrupção no futebol português e internacional e a defesa de Rui Pinto tem alegado o perigo de vida que correrá o Rui Pinto caso venha para Portugal.
Recorde-se que, desde 2015, Rui Pinto publicou informação sensível sobre os maiores clubes e entidades do futebol europeu. Em apenas quatro anos, divulgou 70 milhões de documentos, número seis vezes superior ao da investigação dos Panama Papers. Em colaboração com o consórcio europeu de jornalistas EIC (European Investigative Collaborations), conseguiu que as fugas de informação fizessem capas por toda a Europa.
“Não me considero um hacker, mas sim um cidadão que agiu ao serviço do interesse público. A minha única intenção era revelar práticas ilícitas que afectam o mundo do futebol”, afirmou Rui Pinto em entrevista à Der Spiegel, após ter deixado o anonimato.
O pirata informático português está em prisão domiciliária desde janeiro deste ano, no âmbito de um pedido de detenção europeu do Ministério Público português.
A 13 de fevereiro, o tribunal tinha já rejeitado o recurso do Ministério Público húngaro para colocar Rui Pinto em prisão preventiva, mantendo o português em prisão domiciliária enquanto aguardava o desenrolar do processo de extradição para Portugal.
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