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Rio Forte/GES: Execução das fazendas no Paraguai sem valor consensual

Oferta máxima registada “em processo competitivo de venda foi de 200 milhões de dólares – cerca de 180 milhões de euros – e mesmo assim o negócio não foi concretizado”, comenta ao Jornal Económico fonte deste processo.
13 Abril 2019, 10h00

O conjunto das seis propriedades que a holding Rio Forte (a parte não financeira do universo do ex-BES) tem à venda no Paraguai – totalizando mais de 130 mil hectares – esteve para ser vendido pela sociedade de investimento imobiliário Exan Capital, mas o respetivo processo foi posteriormente entregue pelo Tribunal Comercial do Luxemburgo à consultora Deloitte, embora não exista consenso sobre o seu valor de mercado. Enquanto as imobiliárias locais admitem que estas terras valem entre 3.000 e 8.000 dólares por hectare, fontes relacionadas com a execução da massa falida da Rio Forte consideram que o seu valor global não chega aos 300 milhões de dólares (cerca de 270 milhões de euros).

Para o responsável da Century 21 Paraguai, David Rodríguez, os valores razoáveis para os terrenos agrícolas no Paraguai oscilam entre os 3.000 e os 8.000 dólares por hectare. No entanto, uma fonte relacionada com o processo de venda da insolvente Rio Forte considera que os valores que se praticam no mercado local são muito inferiores. No caso, o conjunto de seis fazendas que integram a designada PAYCO têm recebido propostas muito inferiores aos valores mencionados pela imobiliária Century 21 Paraguai.

“A oferta máxima registada num processo competitivo de venda foi de 200 milhões de dólares (cerca de 180 milhões de euros) e mesmo assim não conseguiram concretizar o negócio”, comentou ao Jornal Económico a fonte conhecedora deste processo. “Acho que o valor pode ser um pouco superior, mas quem compra num processo de insolvência quer sempre baixar o preço”, refere a mesma fonte.

Por outro lado, também as avaliações oficiais feitas anualmente às fazendas da PAYCO não chegam aos 300 milhões de dólares (cerca de 270 milhões de euros), soube o Jornal Económico.

Estas fazendas começaram a ser compradas pelos líderes da família Espírito Santo nos anos 70. Atualmente, quase 50 anos depois, pertencem à falida holding Rio Forte. “Hoje são ativos imobiliários dos credores da insolvência da Rio Forte, mas 15% pertencem à sociedade estatal alemã que investiu nestes ativos e que é a DEG, do grupo financeiro estatal KfW”, explica a fonte.

A DEG entrou como investidor na PAYCO em 2013 e integra o board desta empresa no Luxemburgo, que tem uma holding que se chama PAYCO Luxemburgo, e que é 100% dona da PAYCO Paraguai, que detém as seis fazendas locais – Golondrina, La Matilde, Lomas, Carandayty, Timboty e Cambuchi.

Além destas seis fazendas a PAYCO tem terrenos arrendados e contratos de exploração de parceria com outras unidades agrícolas. “A PAYCO é uma empresa agrícola, tem as áreas dos cereais (arroz), gado e floresta, espalhadas pelas seis fazendas – tem arroz numa, soja em outra e gado em todas”, explica a fonte conhecedora do processo de venda.

“A PAYCO é uma empresa rentável, onde os responsáveis da DEG entraram por aumento de capital para permitir investimentos, em 2013 e em 2015”, adianta a fonte.

Agora, para a alienação das fazendas da PAYCO,_podem ser seguidas estratégias diferentes. “Se vendermos a sociedade como um todo, que é a ideia dominante, serão vendidos mais de 130 mil hectares de terrenos”, adianta, explicando que, “os avaliadores consideram que nesse caso terão de aplicar cerca de 25% de desconto, o que faz baixar o valor global para 240 milhões de dólares (cerca de 212 milhões de euros)”.

Em sentido contrário, se a PAYCO for vendida “propriedade a propriedade, demoram mais tempo, eventualmente dois anos, mas chegam a um valor superior, rondando os 300 milhões de dólares, que ficam lá no Paraguai”, refere a mesma fonte.

Contudo, os valores não serão líquidos. “Em impostos são logo 50 milhões, mais a distribuição de dividendos para a PAYCO Luxemburgo, que é a dona, e ao Luxemburgo só chegarão 150 milhões de dólares”, prevê a mesma fonte. A DEG entrou neste investimento com uma participação minoritária na empresa de 15%. “Obviamente que não tencionam perder dinheiro e esperam ter algum retorno”, remata.

Artigo publicado na edição nº 1982 de 29 de março do Jornal Económico

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