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Exército compra dez mil testes de Covid-19 a empresa especializada no fabrico de peluches

Responsável da Wild Planet garante que ajustes diretos decorreram “pelas normais vias governamentais de comercialização, tendo os produtos sido adjudicados tendo em consideração o preço e, sobretudo, os prazos de entrega”. Exército destaca que testes e máscaras FFP2 destinados às forças destacadas fora do território nacional cumprem todos os requisitos.
25 Maio 2020, 08h10

O Estado-Maior do Exército comprou dez mil testes de Covid-19 à Wild Planet, uma empresa portuguesa especializada na produção e comercialização de brinquedos de peluche. O contrato, no valor de 74 mil euros e com prazo de execução de 20 dias, foi realizado por ajuste direto, tal como um segundo contrato, para o fornecimento de 100 mil máscaras FFP2, pelas quais o Exército pagou 329 mil euros.

Contactado pelo Jornal Económico, o Estado-Maior do Exército referiu que o processo de seleção do fornecedor teve início com uma pesquisa de mercado para o fornecimento dos testes de Covid-19 e de máscaras FFP2, “tendo sido selecionada a empresa que apresentou a melhor cotação, condições e prazo de entrega dos produtos”, incluindo a apresentação das respetivas fichas técnicas e certificados, no cumprimento de “todas as formalidades” do Código dos Contratos Públicos. “A Wild Planet Lda. reuniu estes requisitos, tendo apresentado a maior capacidade de fornecimento urgente destes produtos essenciais ao desempenho operacional do Exército”, garante o departamento de Relações Públicas do Exército.

Os dez mil testes comprados à Wild Planet destinam-se a militares das forças nacionais destacadas e a elementos nacionais destacados, para um “rápido despiste da existência de anticorpos à Covid-19 e decisão de eventuais medidas de isolamento”. Por outro lado, as máscaras FFP2 destinam-se igualmente a militares em missões internacionais, bem como a elementos ligados à saúde militar e equipas de descontaminação.

A 7 de abril, numa audição da Comissão de Defesa Nacional da Assembleia da República, o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, disse que, apesar dos 57 casos de Covid-19 nas Forças Armadas detetados até então, não havia infetados entre os que se encontravam em missões fora de Portugal. “Quanto às Forças Nacionais Destacadas, a Força do Iraque regressou, o Navio-Escola Sagres também está a caminho de Lisboa e chega em meados de maio. As outras Forças Nacionais Destacadas estão bem, com medidas de proteção face à doença, mas sem qualquer caso a reportar em termos de infeções”, disse.

Wild Planet vai manter nova área de negócio

A Wild Planet, cujos únicos contratos públicos registados no portal Base até ao início da pandemia diziam respeito a merchandising de peluches customizados com a mascote do Pavilhão da Água e uma réplica em peluche do robô Viva para o Pavilhão do Conhecimento, destaca que a comercialização de testes de despiste da Covid-19 e de equipamento de proteção individual esteve diretamente relacionada com o impacto da pandemia na sua atividade principal.

“Tendo em consideração a declaração de pandemia decretada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a necessidade de confinamento e o encerramento das atividades comerciais, a gerência foi forçada a encontrar novas soluções comerciais que permitissem a mitigação da presente crise e a manutenção dos postos de trabalho”, disse o co-fundador da Wild Planet, Pedro Kleinsteuber, em resposta a perguntas enviadas pelo Jornal Económico.

Segundo o mesmo responsável, foram disponibilizados ao Estado-Maior do Exército (e a outras entidades públicas e privadas) os produtos “que eram essenciais ao nosso país, face à sua escassez no mercado nacional”, numa apresentação que “ocorreu pelas normais vias governamentais de comercialização, tendo os produtos sido adjudicados tendo em consideração o preço e, sobretudo, os prazos de entrega”.

“Verificámos também que o material de proteção individual necessário para a linha da frente dos nossos hospitais não estava a chegar, não existiam stocks, e foi o setor privado que conseguiu, através dos seus fornecedores e contratos internacionais, mobilizar o mercado e fazer chegar aos nossos hospitais o material de proteção”, defende Pedro Kleinsteuber, acrescentando que a Wild Planet, “com a sua vasta experiência internacional”, assegurou a entrega dos equipamentos em prazos curtos, o que “em pleno estado de emergência constitui sempre uma mais-valia na decisão de adjudicação”.

Os testes de Covid-19 vendidos ao Estado-Maior do Exército foram adquiridos pela Wild Planet na Europa, enquanto as máscaras FFP2 tiveram origem na China. O responsável pela empresa garante que os primeiros estão “devidamente registados”, enquanto os segundos estão “devidamente certificados”.

Pedro Kleinsteuber diz ainda que a área da saúde deverá manter-se entre as prioridades da empresa. “A Wild Planet continuará sempre com a sua atividade principal de produção e comercialização de brinquedos de peluche, mas devido à situação criada pela Covid-19 na generalidade do setor dos brinquedos vamos optar por manter esta área de negócio ativa”.

Peluche da Wild Planet
Empresa Wild Planet, especializada em peluches, vendeu testes de Covid-19 ao Estado.Maior do Exército

No site oficial, a Wild Planet, que foi fundada em 2008, anuncia aos visitantes “que desenha, desenvolve e fabrica peluches de animais para jardins zoológicos, oceanários, museus, supermercados, lojas de prendas e de brinquedos em todo o mundo”, tendo disponíveis mais de uma dezena de coleções e mais de 600 referências.

 

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