«Ex ore parvulorum veritas» (= “A verdade sai da boca das crianças”).

Uma pessoa olha para cima e para baixo, repara à direita e à esquerda, adentra-se em tudo nas organizações e na sociedade (ou em quase tudo, com dificílimo acesso onde superabundam o secretismo e a desinformação) e vê um todo generalizado de reticências e interrogações, de pseudofinança e desconfiança, de especulação e estupidificação.

Tal sucede não somente nas três áreas que movem montanhas de seguidores e coabitam na ribalta mediática: futebol, política e religião. Estas, segundo o ditado brasileiro, não se devem discutir, por serem antro de tantas discórdias e polémicas. E porque não? Infelizmente estão, também elas, impregnadas de falsidades e descréditos, invejas e intrigas, fraudes e corrupção. E espalham-se, assim, a outras áreas transversais e não transversais, pilares da democracia, agudizando tais impurezas éticas de antivalores e fazendo-as alastrar a grande escala. Erroneamente tomadas por muitos como normais, naturais e bestiais (parece que vão tendo mais de ‘bestas’ do que geniais).

Todo e qualquer “campeonato”, seja em que área social for (que não só na desportiva), deve ser contundentemente conquistado e não dado ou roubado, em nome da sua essência e com total transparência. Se dúvidas há – elas proliferam e não passam disso – que se atue penalmente com peso e medida, no exato momento, e não se descanse na rama da investigação pública, em que todos comentam e que com o ruído se contentam. Depois, nada mais, passa o tempo até surgir um novo foco ou soundbite e tudo fica na mesma, pois há imponderáveis nos poderosos que lhes conferem um statu quo de intocáveis, pela teia da conivência e da imparcialidade…

Não pode ser! Não basta “pôr a mão na ferida”: é preciso corrigir, sustar e reprimir o mal que origina a própria ferida; e, também, saná-la para que não infete outra vez e se fique imune às maleitosas adversidades desta vida. Mostremos que é possível inovar no legado deixado, século após século, de que “tudo está consumado”.

E, depois deste breve quadro clínico-social, questionamo-nos de imediato: o que é a verdade? Onde está e como fazê-la predominar absolutamente? É uma questão com dois milénios ou mais, mas não pode continuar a pairar apenas no ar, tem de entrar para ficar eficientemente no proficiente das nossas ciências e consciências, no coeficiente das nossas ações e corações!

O caminho sempre foi, sempre é e sempre será o da verdade, nunca o da mentira – um complexo de ilusões e invenções –, que a contrapõe. E esta senda da verdade – que é vida – é a liberdade, com veracidade, que conduz e é conduzida pela fiel felicidade. Quantos se julgam felizmente verdadeiros e/ou verdadeiramente felizes? E andam, afinal, escravizados por algo (no consumo, no trabalho, nas relações, etc.), de alma triste, sem sentido e sem procurar a verdade… Logo, não a encontram.

A verdade não minga nem nos diminui: só engrandece quem por ela a sua vida tece e, sem medos, dela não se padece. Aquele que não quer nada com a verdade conhece-la como fundamental, porém teme-a e foge dela cobardemente, não se querendo reconhecer nela, enganando-se e encobrindo-se numa obscuridade usurpada à verdade.

Portentosa como é a verdade, ela escuda-se de quem pretende apagá-la e derrubá-la: não é de brigas, mas – escoltada por pacificadores e amantes do bem, bom e belo – se abriga de quem quer enfeitiçá-la, ensombrá-la, lográ-la e surripiá-la. A verdade não se subjuga nem corrompe, mas se irrompe de naturalidade dado que vem sempre ao de cima, tal como o azeite. Por isso, não existe para complicar – mesmo que seja difícil compilar ou custe aceitar –, contudo se aplica aos simples, aos retos e humildes de coração.

A verdade é única (tanto de singular como de excecional) e peculiar, não se compraz aos caprichos, proveitos e arbítrios individuais, a ponto de cada um ter a sua verdade perante uma mesma situação e só essa verdade se impor e valer. A verdade é objetiva (= «veritas rei», como doutrinaram os doutos Agostinho e Tomás de Aquino, a par da «veritas vitae»), é universal e factual. Não se confina a ser possuída, muito menos atrofiada nem coisificada, como se fosse um saco de boxe, um tapete vs. lixo, uma repetente gravação irritante ou outro material qualquer.

Portanto, a verdade é uma realidade, sem veleidade, dispensando dramas e tramas. Não é um jogo nem ficção – espezinhando-a à louca volubilidade –, tal como não é um labirinto. Aí, algumas/várias vidas da global sociedade se enchem e preenchem de medonha superficialidade e vulgaridade nas suas razões e sensações – à flor da pele –, feitas de insensatas fações e primatas reações.

Aprecio ler Agustina Bessa-Luís, e muito a admiro, mas neste aspeto da verdade discordo dela quando escreve que “a verdade nunca há-de ser luminosa, nunca há-de ser clara, ela é sempre procurada mas nas trevas e pertence às trevas”. Na dicotomia que pode atravessar a verdade, como que o bem e o mal, caracterizo a luz como símbolo deste valor vital, tal como entende James Lowell, e não a escuridão associada às trevas. A verdade ilumina-nos e, tantas vezes, clareia-se e esclarece-se pelo diálogo, através do qual “nasce a luz”.

Percorrendo outros escritores e pensadores, subscrevo que a verdade – que tem como critério a prática (Lenine) – passa por “saudar aqueles que nos não saúdam” (Carlo Martini), sem “perder tempo com fatuidades ou subtilezas vãs” (Bernhard Häring), e “nunca é mais verdadeira nos grandes do que na arraia-miúda” (Rochefoucauld). Importa que “nem o interesse nem o medo, nem o rancor nem o afeto” tornem “sinuoso o caminho da verdade” (Cervantes), pois “a verdade é a ‘coisa’ mais preciosa que temos. Poupemo-la” (Mark Twain).

Para concluir: a verdade é justiça. A verdade é paz. A verdade é Amor. Viva a Verdade com autenticidade! Custe o que custar, ela tem o seu trono, sem guerras e em estreita uniformidade: o de reinar. Ela – a todos, com todos e por todos – quer fazer mudar e ser-se no elevar.

 

P.S. – Em vésperas de eleições europeias, em que nos bastidores se fala pouco do muito que é/deve ser a Europa + UE e onde nem sempre a verdade é denominador comum, importa apelar ao voto e ao desejo de políticas de verdade neste projeto comunitário onde nunca deixamos de estar na sua cauda: tanto quando o integramos, há 33 anos e com 12 países, como atualmente e já com 28. Afinal, temos um voto à nossa espera – feito de decisão importante a tomar –, para Portugal subir nos patamares devidos e exigidos, deixando de andar a reboque e a fim de limpar a má imagem nos seus níveis de desenvolvimento, de corrupção, de pobreza técnica, de salários e de qualidade de vida.