De acordo com as previsões a junho do Banco de Portugal, a economia portuguesa deverá crescer 2,7% em 2023 e 2,4% em 2024. A revisão em alta face às anteriores estimativas muito resulta do investimento empresarial e do crescimento das exportações. E esta tendência não se verifica apenas ao nível dos setores do turismo e energia, mas também ao nível de setores mais tradicionais da indústria.
O setor exportador tem desempenhado um papel crucial no desenvolvimento económico de Portugal. Aliás, desde 2011 que o dinamismo do sector exportador tem contribuído decisivamente para a recuperação económica do país, tendo sido crucial no período pós crise financeira de 2011. O peso das exportações no PIB português aumentou de 27% em 2009 para 50% em 2022 (33,9% em bens e 16,1% em serviços), contribuindo em 6,9 pontos percentuais para o crescimento económico em 2022.
E Portugal é conhecido por ter uma economia orientada para a exportação, com setores-chave como têxteis, calçados, produtos agrícolas, vinho, cortiça e turismo. Ainda assim, ao longo dos últimos anos, tem-se assistido a uma crescente diversificação das exportações para setores como tecnologia, serviços financeiros e indústria farmacêutica.
Contudo, existem um conjunto de riscos latentes a curto e médio prazo, que suportam, em larga escala, a previsão de abrandamento do crescimento das exportações de 16,7% em 2022, para 7,8% em 2023 e para 4,1% em 2024, feita pelo Banco de Portugal no seu boletim de junho.
Desde logo, as taxas de juro elevadas, a falta de mão de obra qualificada e a elevada carga fiscal. De acordo com o INE, a carga fiscal em Portugal voltou a renovar máximos históricos, ao atingir 36,4% do PIB em 2022. Aliás, apesar da boa notícia da subida de Portugal para a posição 39 do ‘ranking’ mundial da competitividade IMD, a política fiscal e o mercado de trabalho surgem como as componentes com as piores classificações do país.
Adicionalmente, a competitividade dos produtos portugueses no mercado global, os custos de produção, a burocracia e a falta de acesso a financiamento são questões que precisam ser abordadas, para que se consiga promover ainda mais o crescimento das exportações.
Ao nível do financiamento, num artigo publicado em 2021, analisei o efeito da intensidade exportadora das PME portugueses no seu endividamento, tendo encontrado uma correlação negativa entre endividamento e intensidade exportadora. Demonstrei que a implementação de mecanismos governamentais que suportem atividades de internacionalização e exportação são fundamentais. Isto porque muitas destas empresas enfrentam fortes problemas ao financiamento bancário nos países onde vendem os seus produtos.
Apesar destes desafios, o contexto atual permite identificar oportunidades. A primeira passa pela grande jornada que as empresas portuguesas têm que fazer no sentido da sustentabilidade e regeneração. É este o momento de aumentar a intensidade no desenvolvimento de soluções sustentáveis, de pensar sustentabilidade de forma sistémica, para construir um sistema mais resiliente, para eliminar práticas com elevado impacto negativo a nível social e ambiental. As exigências na Europa são cada vez maiores, mas as empresas exportadoras estão muito bem posicionadas para abraçar esta caminhada.
Adicionalmente, o desenvolvimento de uma estratégia nacional integrada, focada na promoção de competências de gestão, transformação digital e transição energética, bem como na implementação de reformas em setores chave, tais como justiça, saúde, educação e segurança social, são importantes oportunidades.