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Exposição a dívida do Estado português representa cerca de 22% das carteiras das seguradoras

Nas carteiras de investimento das seguradoras há a persistência de uma proporção elevada de emitentes soberanos, e de ativos emitidos por grupos financeiros a operar em Portugal, e que detêm participações no setor segurador e no de fundos de pensões.
O ‘think tank’ Cidadania Social vai avaliar as propostas eleitorais dos partidos políticos na área social, disse à Lusa Margarida Corrêa de Aguiar, especialista em questões de Segurança Social e um dos elementos fundadores daquela associação cívica, 28 de maio de 2015. (ACOMPANHA TEXTO) JOÃO RELVAS/LUSA
7 Janeiro 2022, 19h00

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) publicou o seu Relatório de Estabilidade Financeira de 2021, apresentando uma perspetiva atual do desempenho dos setoresdesempenho segurador e dos fundos de pensões num contexto de pressões inflacionistas crescentes, fortemente influenciadas pela crise energética e pelas perturbações sobre as cadeias de produção e distribuição (também estas associadas aos efeitos da pandemia).

Na análise à exposição das seguradoras e fundos de pensões a emitentes, nas carteiras de investimento, verifica-se que a 30 de junho de 2021 há a persistência de uma proporção elevada de emitentes soberanos, e de ativos emitidos por grupos financeiros a operar em Portugal, e que detêm participações no setor segurador e no setor de fundos de pensões.

A exposição a dívida do Estado português representa cerca de 22%, segundo os gráficos do relatório; segue-se a dívida italiana com um peso à volta de 9%; logo seguida da dívida espanhola que rondará os 8%. A dívida da Fosun surge em quarto lugar com exposição de cerca de 3,5%. Os chineses da Fosun International Limited controlam 85% da seguradora Fidelidade.

Na lista de exposição a dívida de emitentes públicos ou privados por parte das empresas de seguros (excluindo unit-linked, ou seja, sem os seguros de capitalização), abaixo da exposição à Fosun está a dívida francesa e depois a dívida da Caixa Geral de Depósitos.

O relatório refere que “no contexto segurador (exceto unit-linked), o peso agregado das cinco principais exposições ascende a quase 50% do total de ativos, revelando que as principais contrapartes concorrem para uma proporção muito material dos portefólios”.

Deste subconjunto, quatro dos cinco principais emitentes correspondem a soberanos europeus, “o que se revela favorável do ponto de vista dos requisitos de capital (em virtude da isenção de cargas de capital para os riscos de spread e de concentração no caso destes títulos), ainda que densifique importantes vulnerabilidades face a possíveis fragmentações destes mercados”, conclui a ASF.

Esta preferência por soberanos europeus é comum na generalidade do mercado, “o que é patente no relativamente baixo nível de concentração da carteira de dívida pública, quando medido pelo Índice de Herfindahl (IHH)”, diz a ASF.

De igual forma, “destaca-se a moderada concentração da carteira de dívida privada, enquanto os títulos acionistas revelam elevados níveis de concentração, sendo a representatividade do principal emitente nesta carteira de quase 75%, concentrado apenas numa empresa”.

“Em termos da política de investimentos do mercado segurador (exceto unit-linked) a carteira obrigacionista permanece maioritária, com 75,5% do total, apesar do ligeiro decréscimo de representatividade em junho de 2021, face ao período homólogo anterior (-2,2 pontos percentuais). Destaca-se ainda o investimento em imobiliário (8,9% do total da carteira), correspondendo mais de metade deste valor a participações em empresas de investimento imobiliário, exposições que estão concentradas num conjunto restrito de operadores”, lê-se no relatório.

No caso da carteira unit-linked (seguros de capitalização) das empresas de seguros, “são patentes níveis de concentração ainda mais pronunciados, sendo a representatividade do principal emitente, o soberano nacional, de cerca de um terço do total de ativo”, refere o relatório que acrescenta que dos restantes grupos económicos representados nas quinze maiores exposições, destaca-se a predominância de grupos bancários e de empresas do setor energético.

“Note-se, contudo, que este nível de concentração deverá estar conexo com o menor número de empresas a operar no segmento”, ressalva a ASF.

O peso da exposição a dívida pública portuguesa, neste caso, sobe para cerca de 33%. Segue-se o peso da exposição ao BCP com entre 8% e 9%, acima da exposição à dívida espanhola que está acima dos 6%. A exposição ao Santander surge com um peso de 6%, acima da exposição à dívida italiana que não chega aos 5%.

“Quanto à carteira unit-linked das empresas de seguros, constata-se uma política de investimentos bastante diferenciada, com destaque para os fundos de investimento mobiliário que, no final do primeiro semestre de 2021, incrementaram 9,2 pontos percentuais face ao final de 2020, em detrimento dos títulos obrigacionistas, passando a representar metade do valor total de ativos em carteira”, refere a ASF no relatório.

“A alocação de ativos afetos a seguros unit-linked (capitalização) em categorias tendencialmente menos conservadoras, quando comparadas com a restante carteira da empresa de seguros, poderá ser reflexo do menor esforço em termos de requisitos de capital implícito nesta carteira de ativos”. aponta a ASF.

“Face ao final de 2020, quer no âmbito do negócio não unit-linked como do negócio unit-linked das empresas de seguros, destaca-se a redução mais expressiva do principal emitente em ambas as carteiras, i.e., o soberano nacional”, lê-se no relatório.

No caso dos fundos de pensões, os níveis de concentração são consideravelmente menos elevados, sendo a proporção combinada dos três principais emitentes de 33%, diz o relatório.

À semelhança do setor segurador, este subconjunto é constituído por soberanos europeus, notando-se, no entanto, uma maior preferência por economias menos vulneráveis a potenciais fenómenos de fragmentação.

Já no contexto dos fundos de pensões, as variações no último semestre são mais comedidas. “Não obstante, salienta-se o facto dos principais aumentos se concentrarem em exposições bancárias, enquanto os principais decréscimos, de uma forma geral, são soberanos europeus, com destaque para a Alemanha”, refere a ASF.

“No setor de fundos de pensões, destaca-se o peso representativo dos títulos de dívida, ainda que a sua expressão tenha vindo a diminuir no período mais recente, por via da redução do peso dos soberanos. Seguem-se, em termos de representatividade, os fundos de investimento mobiliário, que mantêm uma tendência crescente com um reforço de 3,2 pontos percentuais em junho de 2021, e os Imóveis e Fundos de Investimento Imobiliário”, diz a entidade reguladora do setor.

No relatório é possível ver que a maior exposição das seguradoras, em termos de carteira de investimento, é a dívida pública portuguesa que ronda os 12 mil milhões de euros, segundo dados do relatório.

Riscos para as seguradoras e os fundos de pensões

A ASF emitiu no seu relatório alguns alertas a riscos para o setor segurador. “O ambiente de taxas de juro muito baixas manteve-se particularmente desafiador para os setores segurador e dos fundos de pensões, condicionando a oferta de novos produtos com garantias financeiras atrativas, e pressionando as rendibilidades dos títulos de dívida e a valorização das responsabilidades”.

“No decurso de 2021, adensaram-se ainda as vulnerabilidades resultantes da dissociação entre as valorizações dos títulos financeiros e o comportamento dos indicadores macroeconómicos subjacentes, amplificando assim a dimensão de potenciais correções (no caso de um reajuste que venha a ter lugar por via de uma correção abrupta dos preços dos ativos)”, explica a ASF.

“Em termos de solvência, em setembro de 2021, regista-se um reforço assinalável da posição do setor segurador, face ao final do ano anterior”, diz o relatório.

Ao nível da rendibilidade, o mercado segurador sob supervisão prudencial da ASF recuperou, em termos homólogos, apresentando um resultado líquido global de 315 milhões de euros no primeiro semestre de 2021.

Em relação à produção, a setembro de 2021, destaca-se o crescimento registado para o ramo vida, particularmente impulsionado pela evolução no segmento dos produtos ligados, resultante da aposta de várias empresas de seguros no reforço da oferta de seguros unit-linked. “Este movimento representa uma alteração na estrutura da produção do ramo Vida e no modelo de negócio de alguns operadores, num mercado tradicionalmente caraterizado por um perfil mais conservador e pela preferência dos tomadores de seguros por produtos com garantias de capital ou de rendibilidade mínima”, diz ASF.

No que se refere ao sentimento global e individual das empresas de seguros e das entidades gestoras de fundos de pensões em relação aos riscos a que se encontram expostas, destacam-se os riscos macroeconómicos, como aqueles que “são suscetíveis de assumir maior materialidade para o desempenho da sua atividade, em alinhamento com a avaliação da ASF”.

Para além dos riscos das alterações climáticas e ao esforço de transição para a economia digital, a ASF destaca os riscos cibernéticos devido ao processo de transformação digital, que abrange todas as etapas da cadeia de valor.

“As empresas de seguros podem ser impactadas numa dupla vertente. Por um lado, enquanto operadores do mercado que estão expostos a riscos operacionais em geral e riscos cibernéticos em particular, mas também, eventualmente, enquanto entidades que assumem responsabilidades (através da emissão de contratos de seguro) que visam cobrir esses mesmos riscos”, alerta a ASF.

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