O crescente interesse pelo tema ESG pode justificar a insuficiência do conceito de externalidades tão defendido pela teoria económica. Na realidade, quando a Network for Greening the Financial System, composta por bancos centrais, assumiu em 2019 que o clima é um risco financeiro, veio indiretamente assumir que as externalidades são uma teoria do passado.

A teoria do presente chama-se dupla materialidade: as empresas têm um impacte no ambiente, no clima e na sociedade em geral; que, por sua vez alteram o equilíbrio do planeta, levando às alterações climáticas, perdas de biodiversidade, alterações nos padrões agrícolas, entre outros, e que podem impactar financeiramente as empresas.

É por isso necessário que as empresas consigam compreender de que forma os vários temas ambientais e sociais, podem impactar as suas contas. Trata-se hoje de uma gestão de riscos. No contexto das externalidades estes impactes nunca aconteceriam, pois a escassez de uma matéria prima iria levar ao aumento do seu preço, e tal levaria a uma menor utilização da mesma que originaria um novo equilíbrio; e a poluição feita pela empresa teria um imposto que a levaria a investir em tecnologia para baixar a dita poluição. Ora, como podemos ver, a economia real não funciona assim, e o conceito de externalidades é incompleto ou mesmo inútil

É por isso que o próprio setor financeiro internacional – liderado pelos bancos centrais – desenvolveu a metodologia da TCFD (task force on climate financial disclosures) que define a informação que as empresas não financeiras e financeiras devem reportar ao mercado para que este (e os investidores), saibam como é que a empresa está a incluir, na sua gestão, os riscos climáticos que podem implicar danos financeiros para a organização.

Está também em desenvolvimento a TNFD (task foces on nature financial disclosures) que define a informação que as empresas devem reportar sobre a forma como estão a gerir os riscos de escassez de recursos e de perda de biodiversidade que é tão evidente no planeta. Tendo em conta que, de acordo com o World Economic Forum, mais de 50% do PIB depende da Natureza, então o futuro que temos a 10 anos poderá ser ainda mais desafiante. A este desafio podemos adicionar o facto de vários e studos, nomeadamente pela SwissRe, indicarem que o aumento da temperatura do planeta leva a uma diminuição do PIB.

Numa altura em que se discute o Orçamento do Estado para 2023, haja coragem e espírito para se pensar no futuro. Se nada for feito a nível fiscal para induzir uma economia mais verde, daqui a 10 ou 15 anos, a verdadeira queda do PIB pode ser bem possível. Bem sabemos que nessa data os atuais políticos já não o serão, mas as nossas famílias – e as deles – ainda andarão por cá…