Quando Geert Wilders, líder do Partido pela Liberdade (PVV), de extrema-direita, venceu as eleições de novembro de 2023, tornou-se evidente que, embora a vitória não fosse suficiente para garantir uma maioria absoluta, a formação só conseguiria chegar ao poder através de uma coligação. Após um primeiro momento em que alguns partidos da direita tradicional prometeram manter uma ‘cerca sanitária’ em torno dos extremistas, ficou claro que essas promessas não tinham valor. A extrema-direita e a direita tradicional decidiram, assim, formar uma coligação. Desde o início, vários comentadores afirmaram que Wilders era um membro pouco confiável para uma coligação e que a força que conquistou nas eleições seria utilizada para criar uma crise política. A intenção antecipada seria conseguir uma maioria suficientemente robusta para que Wilders pudesse governar sozinho.
Aparentemente, foi isso que aconteceu esta terça-feira: Wilders demitiu-se, alegando que a coligação não estava a cumprir o acordado em termos de gestão da imigração. No entanto, os restantes membros da coligação afirmaram que tudo não passava de uma ficção. Aliás, recordaram que o ministro responsável é precisamente do PVV, o que significa que, se houve atrasos nas políticas de imigração, isso se deve exatamente aos extremistas.
Num primeiro momento, após a demissão, parecia que o governo conseguiria sobreviver à crise política e tentaria governar sem os extremistas. Contudo, horas depois, isso revelou-se impossível, uma vez que o PVV era o maior partido da coligação. O resultado foi o colapso do governo holandês, que provavelmente dará início a um caminho em direção a eleições antecipadas. O primeiro-ministro Dick Schoof – um independente que já apresentou a sua renúncia ao rei dos Países Baixos – acusou Wilders de irresponsabilidade. Com os analistas a afirmarem que as eventuais eleições antecipadas não deverão ocorrer antes de outubro, o governo manter-se-á em funções, com a provável necessidade de substituir os ministros do PVV que estão a sair.
“Eu disse aos líderes dos partidos da coligação, repetidamente nos últimos dias, que o colapso do gabinete seria desnecessário e irresponsável”, afirmou Schoof após uma reunião de emergência do gabinete. “Estamos a enfrentar grandes desafios nacionais e internacionais que exigem determinação”, acrescentou, antes de se demitir junto do rei Willem-Alexander.
Wilders já afirmou que liderará o PVV nas eventuais eleições antecipadas e que espera ser o próximo primeiro-ministro. Tal como aconteceu em 2023, é muito provável que o cenário político continue fraturado, o que significa que a formação de um novo governo pode levar vários meses. A aposta de Wilders é diversificada: perante os excelentes resultados que a extrema-direita tem obtido na Europa – talvez a prestação do Chega de André Ventura em Portugal também tenha influenciado – este pode ser um momento especialmente propício para alcançar o poder sozinho. Wilders venceu as eleições de novembro de 2023 com 23% dos votos. As sondagens mais recentes atribuem aos extremistas intenções de voto na ordem dos 20%, aproximadamente ao mesmo nível da combinação Trabalhista/Verdes, que atualmente é o segundo maior agrupamento parlamentar. Wilders, que foi condenado por discriminação em 2016, não fazia parte do governo que agora entrou em colapso: só conseguiu fechar um acordo de coligação com os três outros partidos conservadores (já em 2024) depois de concordar em não ser primeiro-ministro nem ministro.
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