Os episódios de violência ocorridos esta semana na região da Grande Lisboa devem merecer uma serena reflexão e não uma incendiária e gratuita proposição de racismo ou de perseguição. Reflexão essa que deve perspetivada nas suas múltiplas dimensões.

Aparentemente um ato isolado a partir de um conflito de vizinhança desencadeou vários atos reflexos. E deixa-nos uma mensagem de como uma intervenção pública mais musculada pode ser um rastilho para situações mais complexas e de escalada inesperada, que provocam não apenas mais violência como podem vir a ter consequências graves.

Sabemos que um ato por si só não traduz um estado de alma de violência e pode constituir apenas um escape social que se esgota na resposta. No passado tivemos episódios semelhantes que se restringiram a um momento e não a um movimento.

Não existem na sociedade portuguesa sinais evidentes de insatisfação social que resultem de condições negativas de integração. Mas as sociedades alteram-se e, repentinamente, sem atenção suficiente, podem espoletar situações mais complexas. Particularmente quando alguns buscam prosperar com a agitação pública e incendiária. Agravado por ser ano de várias eleições e termos presentes alguns contributos exteriores que proporcionam cor, som, visibilidade e publicidade excessiva para oportunistas de ocasião.

Não sendo movimentos orgânicos, logo sem previsibilidade e controlo, estes atos podem ser aproveitados e são-no com despudorado oportunismo por extremistas que, no primeiro momento, trepam pelos acontecimentos como se deles fossem donos ou como se tivessem uma solução simples e fácil para os impedir.

Enquanto ainda aguardávamos pela análise das circunstâncias, logo alguns arautos defensores dos oprimidos condenaram a polícia por abusos e desculparam quem teve comportamentos que pôs em risco a ordem e a segurança pública.

Grave atitude logo por uma deputada do Bloco de Esquerda, que tem toda a legitimidade para defender no que acredita, mas não à custa de incendiar as situações condenando sem ver, sem provas, e apenas partindo de pressupostos. Logo na semana em que o Bloco de Esquerda se esforçou para negar as suas raízes extremistas rapidamente regressaram aos seus comportamentos radicais e anti-poder. Sinal de que já não acreditam na geringonça ou um ensaio de campanha para reencontrar eleitorado em perda.

Este tipo de discurso radical aqui representado à esquerda corre o de vir a ser aproveitado por outros extremismos. E aqueles, como os socialistas, que durante uma legislatura inteira aproveitaram os apoios desta extrema-esquerda, não podem nem devem agora ficar calados, ou serão coniventes com o discurso e as consequências.

À medida que nos aproximando dos períodos eleitorais, importa deixar um alerta para campanhas que podem criar um estado de alarme injustificável e inexistente. Jargões radicais podem ser próprios para manchetes de jornais e polémicas públicas, mas contribuem para lançar acendalhas numa fogueira que na Europa já deixou há muito de ser latente.

Este é um desafio a novos e velhos protagonistas que podem fazer do medo munição e da ignorância alvo. m dar frutos eleitorais mas têm custos sociais imparáveis. Esta situação serve ainda para os poderes públicos, a quem cabe impedir que estes fenómenos possam germinar. E se os subúrbios de Lisboa não têm a dimensão dos bairros de lata de Paris ou Bruxelas, aqui também podem nascer episódios que preenchem uma temporada de uma série.