A primeira questão a que os promotores e defensores do euro hoje devem responder, e não o fazem, é a razão por que nenhum dos grandes objectivos anunciados com a criação da moeda única, se concretizou. Porque é que a publicidade do argumentário da Comissão Europeia falhou? Recessão e estagnação em vez de crescimento. Divergência entre os Estados-membros em vez da convergência. Instabilidade económica e financeira versus estabilidade. Porquê o grande argumento hoje contra a saída do euro, são os problemas da saída e não as anunciadas vantagens do euro? A propaganda do euro foi uma monstruosa e precoce fake news!

Diz João Ferreira do Amaral (JFA), “nada do que foi prometido com a criação da moeda única foi cumprido” (Sol, 29DEZ18).

A segunda questão é o balanço. Para Portugal é fácil. Só dogmáticos do neoliberalismo, propagandistas empedernidos da política de direita ou cegos à realidade económica do país durante estes 20 anos, podem falar em sucesso! E isto não foi nem é apenas um problema português, contrariamente aos que defendem o euro, com a ideia de que as coisas cá correram mal porque tivemos Sócrates, Durão, Santana, etc. Estes agravaram a situação no quadro de constrangimentos e limitações decorrentes da União Económica e Monetária (UEM) e de Maastricht. Não.

As coisas correram mal para os países do Sul, mesmo para economias desenvolvidas como a italiana. Até a França foi atingida. Só por absoluta cegueira ideológica ou ensimesmamento neoliberal, ou pertinácia federalista, e sobretudo, por absoluto desprezo pela soberania e direitos dos povos, alguém pode dizer que as coisas correram bem. E o que se anuncia para o futuro não é nada melhor.

JFA sintetiza, “a criação da moeda única é um gigantesco fracasso” e prevê os próximos 20 anos: “Um pesadelo”!

A terceira reflexão é se o projecto da UEM foi um erro, um engano dos seus promotores e ideólogos, ou uma estratégia política ao serviço de interesses alheios aos dos povos e estados da UE. Ora, quem a fez sabia o que ia acontecer. Era da história económica das uniões monetárias. Era da experiência histórica dos Estados federados. Houve insuspeitos (de comunismo, de antieuropeísmo…) académicos a anunciarem o que ia acontecer. Em Portugal, a voz exemplar de JFA! Há uma intencionalidade no projecto que não parece admitir ter sido por “erro”, por défice de conhecimento, ou pior, por disparate, o seu avanço.

Porque há os Estados que ganham forte e feio, como a Alemanha. Ajudou-a a digerir a anexação da RDA. Balanças comerciais e de capitais largamente excedentárias. A divergência agravada das competitividades, a evolução diferenciada da procura interna, da poupança, do investimento, do PIB.

O Tarjet 2 exibe com fidelidade os desequilíbrios económicos e financeiros, mostra os ganhadores e os perdedores. Mas deu ao grande capital europeu enormes vantagens. Mesmo em Portugal, não é a SONAE ou a Jerónimo Martins que se queixam… A Mesa Redonda dos Industriais Europeus (ERT) não criou por acaso, em 1987, a sua Associação para a União Monetária Europeia (AMUE), onde pontificavam os maiores magnatas da indústria e banca da Europa. Mas os trabalhadores europeus pagaram e pagam um preço elevado em salários e desemprego.

De facto, as fake news não são uma invenção do tempo da net e das redes sociais…

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.