Hoje em dia parece que todos os comentadores de política referem a palavra “populismo”, e já agora o conceito e a realidade, com bastante mais frequência do que há uns anos atrás. Parece que a moda veio para ficar, empurrada, claro está, por realidades políticas e sociais diversas, mas visível, sobretudo, no rescaldo da crise do subprime.

Não sendo apenas um fenómeno europeu ou norte-americano, como nos garantem casos fora destas fronteiras, como as Filipinas ou a Venezuela, só para dar dois exemplos correntes, a maneira como tal tem afectado o espaço europeu transforma-se numa apreensão global dadas as memórias da II Guerra Mundial. Nomes como Órban, na Hungria, ou Kaczynski, na Polónia, deixam o mais distraído, no mínimo, com a “pulga atrás da orelha”. As acções destes governantes de tentativa de censura académica, de redução dos direitos das mulheres e dos homossexuais, ou o preconceito contra imigrantes, entre outras, manifestam-se como claras medidas populistas.

Estes populismos, muitas vezes impregnados de uma vertente nacionalista – veja-se o caso francês, com Le Pen – parecem estar para ficar. A sua racionalização também não é tão simples de desfazer como podemos pensar à partida. Não porque garantam uma cuidadosa e coerente argumentação, normalmente não é esse o caso já que rapidamente encontramos as suas falhas, mas porque apelam aos medos da população e a uma certa sensação de pertença, onde nem sempre entram – diria mesmo que raramente entra – argumentações baseadas em factos. Assim, estes populismos optam pela via do raciocínio demagógico, porque também parcial, direccionado para a ideologia que pretendem satisfazer.

Uma das grandes dificuldades que se tem apresentado a quem analisa estes fenómenos é o facto destas realidades, além dos países onde se desenvolvem, serem muito díspares. Há neste espectro partidos políticos para todos os gostos e com um toque de populismo mais ou menos acicatado. Desde o suíço SVP, ao holandês Partido da Liberdade, passando pela Lega Nord italiana, ou a contribuição de Nigel Farage no Reino Unido, ou outros partidos que não são considerados populistas por muitos, mas com laivos bem vincados como o Podemos na vizinha Espanha, ou o movimento italiano das Cinco Estrelas.

Esta tentativa de classificação pode ser sempre questionada, e não é minha intenção estabelecer aqui uma categorização final ou totalmente aceite por todos, mas convém reflectir sobre como o fenómeno populista vai além da mera ideologia (direita ou esquerda) e assenta, maioritariamente, num desrespeito, ou tentativa de desrespeito, face à garantia de um equilíbrio institucional no seio das democracias.

A verdade é que o voto nos partidos populistas um pouco por toda a Europa aumentou, e muito, nos últimos anos. Independentemente destes partidos não terem vencido eleições até agora, estarão para ficar por mais alguns anos com representação de uma percentagem relevante da população. Temos obrigação de pensar nisso e de estar atentos para percebermos se o fenómeno está para ficar, e até aumentar, ou se se desvanecerá com o passar dos dias. Afinal, como é que os populismos ditarão a formação de políticas públicas mais ou menos justas, mais ou menos extremadas? Estas sementes voltam a estar presentes no solo europeu e bem à vista de todos e isso não é de somenos importância.

A autora escreve segundo a antiga ortografia.