Como partner da Sociedade Portuguesa de Inovação, Consultoria Empresarial e Fomento da Inovação S.A. tenho vindo a explicar aos clientes da SPI, empresas e associações empresariais, a digitalização da economia e a Indústria 4.0. Recentemente, coordenei e fui relator dos Grupos de Trabalho do Fórum para a Competitividade sobre “Economia Digital” e “Mobilidade Sustentável e Automóvel Elétrico”.

No dia 18 de maio, em Madrid, em representação da Ordem dos Engenheiros no “Congresso Iberoamericano de Engenharia e Tecnologia”, expliquei a “Indústria 4.0 e os impactos da digitalização sobre o emprego e a competitividade”.

Tendo pois feito uma imersão profunda nestes temas, espanta-me o entusiasmo com que  especialistas, alguns Professores Doutores em Engenharia, estão a embalar na chamada Internet das Coisas para  comandar máquinas ou pô-las a comunicar entre si através da Internet ou ainda no carro sem condutor (“driverless car”). Estão encantados com estes brinquedos tecnológicos! No fundo querem uma irrealista gestão da transição. Às vezes, elevadas habilitações destroem o bom senso… O mesmo se passa na transição energética, como no semanário Expresso nos mostrou o lúcido e corajoso artigo do Prof. Amílcar Soares.

Na realidade, para que esses avanços tecnológicos no domínio da Internet das Coisas no chamado modelo da Indústria 4.0, conceito criado pelos alemães (os americanos tinham antes criado o conceito de manufatura aditiva bem visível na impressão 3D), se possam implementar de forma sustentável ainda falta resolver problemas ao nível dos standards de normalização, dos protocolos de comunicação e da candente questão da cibersegurança.

No dia 11 de maio, ao apresentar numa conferência o trabalho sobre “Mobilidade Sustentável e Automóvel Elétrico”, chamei de forma enfática a atenção para estas coisas. No dia seguinte tivemos o ciberataque do “WANACRY MALWARE” à escala mundial! Já repararam   os sarilhos e o pandemónio que se tinham criado se já tivéssemos carros e máquinas dependentes da Internet?

Na semana seguinte tivemos o caos num aeroporto londrino provocado pelas falhas do sistema informático da British Airways. Estas falhas inglesas não me espantam. Já em 2000, em transito de Lisboa para São Francisco, nos EUA, apanhei com o colapso do sistema de controlo do trafego aéreo inglês o que me obrigou a ficar dois dias no aeroporto de Londres. Quer o aeroporto quer a companhia aérea não providenciaram qualquer assistência aos pobres passageiros retidos no aeroporto que sofreram no meio dum terrível caos. Inacreditável  o comportamento dos serviços do aeroporto e da companhia aérea inglesa! O que seria se tivesse acontecido no aeroporto de Lisboa com a TAP…?

Neste momento, a velocidade com que se quer avançar na Internet das Coisas está a dificultar uma correta avaliação dos riscos, havendo aqui nitidamente uma bipolaridade pois a perceção é insuficiente e o risco é muito elevado! Também no que toca ao excessivo otimismo de alguns sobre o carro elétrico, o relatório da “Mobilidade Sustentável e Automóvel Elétrico” atrás referido dizia textualmente que “não estamos em transição duma situação 100% a motores de combustão para uma situação 100% veículos elétricos”.