Enquanto, nas redes sociais, as famílias partilham nas suas férias fotografias dos fogos que assolam o nosso Algarve e especialistas, como Paulo Fernandes, afirmam que as condições meteorológicas extremas de agora também tenderão para extremos maiores no que toca à dimensão dos incêndios, enfrentamos uma vez mais esta realidade assustadora: vivemos um estado de emergência climática a nível planetário.

No final do passado mês de julho foi divulgado, a nível internacional, um estudo publicado na revista “Bioscience” por um grupo de onze cientistas evidenciando que 16 dos 31 sinais vitais planetários rastreados, incluindo as concentrações de gases com efeito de estufa, o calor oceânico e o nível do degelo, estabeleceram novos e preocupantes valores recorde. “Há provas crescentes de que nos estamos a aproximar ou já fomos além dos pontos de rutura associados a partes importantes do sistema terrestre”, disse William Ripple, ecologista da Universidade do Estado do Oregon e coautor desta nova investigação.

Ao nível dos comportamentos das pessoas, e apesar dos encerramentos de vários setores da economia provocados pela pandemia, as emissões globais de carbono e o uso de combustíveis fósseis baixaram apenas ligeiramente em 2020, sendo que os autores do estudo afirmam que o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso “estabeleceram todos novos recordes anuais para as concentrações atmosféricas, tanto em 2020 como em 2021”.

Em abril de 2021, a concentração de dióxido de carbono atingiu 416 partes por milhão, a maior concentração média mensal global jamais registada. Para os cientistas: “uma grande lição da Covid-19 é que mesmo uma diminuição colossal do transporte e do consumo não é suficiente e que, em vez disso, são necessárias mudanças que transformem o sistema de forma estrutural”.

Ao nível económico, esta situação está já a mexer com diversos mercados, entre eles o do imobiliário. Uma nova tendência já detetada pelo sector é a deslocalização de residentes nas cidades para locais cujas características geográficas, como a altura e a distância do mar os tornem menos suscetíveis de ser afetados pelas consequências das alterações climáticas.

No entanto, outros comportamentos dos consumidores estão ainda longe de serem avaliados nas suas repercussões para as empresas e organizações. Nesse sentido, foi muito recentemente noticiado que o nosso país será incluído pela primeira vez este ano no inquérito global “Healthy & Sustainable Living” (H&SL), como resultado da parceria entre a multinacional GlobeScan e a NBI – Natural Business Intelligence, uma consultora portuguesa de gestão e ecologia especializada em criar opções para uma Economia de Base Natural através de pontes entre o conhecimento académico e a gestão das organizações.

Os resultados do inquérito, patrocinado em Portugal pela EDP e AGEAS e a divulgar no início de outubro, deverão ser muito úteis para entender os comportamentos dos cidadãos à luz das suas preocupações com as mudanças climáticas. E também, ao permitir comparar as atitudes e preocupações dos portugueses com os habitantes de outros 30 países, sabermos o que nos une e separa na forma como – na prática – lidamos com os temas ambientais no nosso dia a dia. E que mudanças estamos mesmo dispostos a fazer, a começar pela nossa mentalidade. Como escreveu George Bernard Shaw: “Aqueles que não conseguirem mudar primeiro as suas mentes, não conseguirão mudar seja o que for”.

 

 

É ainda muito subvalorizado o trabalho dos nossos arqueólogos subaquáticos, mas tem sido merecedor de enorme relevo o trabalho que tem vindo a ser feito por vários dos especialistas que têm descoberto património afundado nas nossas costas. Está de parabéns a equipa que, em setembro, voltará a mergulhar para estudar a nau da Carreira das Índias encontrada em 2018 nas águas ao largo de Cascais.

 

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