Em jeito de declaração de interesses tenho a dizer-vos que, ao longo da minha vida profissional na academia, tenho sido recorrentemente seleccionada e contratada através de concursos financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). É ainda o que ocorre neste momento, quer em termos individuais, quer enquanto investigadora principal de um projecto colectivo.

Posto isto, quero igualmente referir que tenho imensas histórias, como quase todos os meus colegas, caricatas umas, mais felizes outras, e muitas absolutamente terríveis, desta relação que já se prolonga há imensos anos. Mas não é por aí que vou hoje, até porque assuntos há de maior interesse, penso eu.

Num país onde, todos sabemos e/ou sentimos na pele, a falta de recursos é a norma, a Ciência não se constitui como excepção. As últimas décadas trouxeram consigo avanços imensos naquilo que é o financiamento em Ciência, isto nas várias áreas do saber. Na verdade, a FCT tornou-se o impulso disso mesmo. Bem ou mal – e poderemos discutir isso de maneira mais ou menos aprofundada numa outra ocasião – a FCT foi conseguindo ajudar a abrir caminho a ideias e projectos, e também a jovens investigadores.

Claro que o caminho tem sido feito com muitas, imensas, inconstâncias. Não faltam relatos sobre isso. Mas uma das coisas que se tem afigurado mais difícil nos últimos anos têm sido as avaliações feitas, quer ao abrigo de concursos individuais, quer de projectos colectivos. Em boa verdade, todos os anos a celeuma em torno dos mesmos dá aso a rios e rios de tinta e, digo mesmo, a muitas dores de cabeça, inquietações e revoltas.

Não sei exactamente quais foram as motivações que um dos meus colegas do ISCTE, João M. Santos, teve (além desta ser uma das suas áreas de especialização) ao analisar de maneira científica e rigorosa as avaliações de um dos painéis de avaliação numa área muito específica a que teve acesso. Obviamente que esta informação ainda é muito limitada, contudo pode ajudar-nos a minimizar as “dores” provocadas por  concursos onde não é raro as taxas de sucesso andarem um pouco abaixo dos 5%.

No artigo “Quid judicabit ipsos judices? A case study on the dynamics of competitive funding panel evaluations” o autor analisou a dinâmica de um painel de avaliação da FCT numa área específica das ciências sociais, comparando as avaliações feitas pelos avaliadores. Muito sucintamente, refira-se que João M. Santos utilizou uma abordagem de mixed-methods, na qual incorporou avaliações qualitativas e quantitativas para tentar perceber se as mesmas estavam em linha com o CV dos candidatos.

Apesar de provar que os resultados das avaliações estão a par com os critérios de avaliação, surpreendentemente, os resultados académicos dos candidatos (outputs) por si só não explicam as avaliações finais. O artigo demonstra mais do que aquilo que posso dizer no número de caracteres que me são permitidos, e há ali informação que poderá ajudar a FCT e os avaliadores, todos nós, aliás, a ser melhores. Resta saber se queremos.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.