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Fernão de Magalhães: Espanha diz que primeira volta ao mundo é “exclusivamente espanhola”

500 anos depois, a primeira volta ao mundo em navegação continua a levantar polémica. Jornal espanhol ABC acusa Portugal de produzir “mentiras para apropiar-se da viagem” de Fernão de Magalhães.
12 Março 2019, 09h00

O navegador português Fernão de Magalhães é conhecido em todo o mundo por ter liderado em 1519 a primeira volta ao mundo. Esta empreitada foi feita ao serviço da coroa de Espanha e do rei Carlos I.

A viagem foi terminada contudo sob a liderança de Sebástian Elcano, após Fernão de Magalhães ter sido assassinado onde hoje são as atuais Filipinas.

Mas a Real Academia de História espanhola emitiu recentemente um parecer a defender a “plena e exclusividade espanholidade” da primeira volta ao mundo, avançou o jornal espanhol ABC no último fim-de-semana. Alias, foi o próprio diretor deste jornal Bieito Rubido Ramonde que pediu à instituição que realizasse um parecer sobre esta questão. O jornal argumenta que o parecer é vinculativo e terá de ser ratificado pelo Governo espanhol.

Este pedido de parecer aconteceu depois do diretor do ABC reagir com “assombro e vergonha às notícias sobre a apropriação ilegítima pelas autoridades portuguesas da paternidade da expedição”. O jornal cita iniciativas como a rede mundial de cidades magalhânicas ou a rota de Magalhães apresentada na Unesco.

Na opinião do jornal ABC , o “papel de Espanha foi apagado ou aparece de maneira subalterna. O Governo espanhol deixou andar ou tratou de fazer uma comemoração conjunta com Portugal. Será que Itália faria o mesmo com Cristovão Colombo?”.

O ABC chegou mesmo ao ponto de acusar Portugal de produzir “mentiras para apropiar-se da viagem de Magalhães e Elcano”.

As reações do lado português não se fizeram esperar. “Há em Espanha quem não queira partilhar a volta ao mundo com mais ninguém, e uma Real Academia que se presta a essa agenda”, escreveu o historiador Rui Tavares no Público.

Já o historiador José Maniel Garcia fala em manipulação por parte da instituição espanhola. “Foi um descobrimento espanhol com ciência portuguesa. Está-se agora a tentar, por razões políticas, manipular uma evidência científica que não tem discussão possível”, disse ao jornal Observador o autor do livro “A viagem de Fernão de Magalhães e os Portugueses”.

“Se não fosse o Fernão de Magalhães, que era português, os espanhóis nunca teriam feito aquela viagem. Aliás, nunca mais a fizeram. Ainda tentaram mais três vezes, mas chegavam às ilhas Molucas [Indonésia] e ficavam por lá, porque não conseguiam fazer o caminho de volta por águas espanholas, e acabavam presos pelos portugueses”, explicou ao Observador José Manuel Garcia.

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