(Resisto a escrever sobre a inusitada reacção de Trump ao cartoon de António, não deixando de me espantar quanto à susceptibilidade de uma alma que acha que pode escrever – ou lá o que ele faz –  o que quiser mas não aceita um exercício de humor bem menos violento do que algumas das alarvidades que debita a um ritmo frenético. Também não me vou, por ora, deter na subida da extrema-direita no país vizinho, certa de que há erros que não precisam de ser repetidos e de que o populismo nunca deu grandes frutos, a não ser para os seus ventríloquos.)

 

É certo que o tema que trago passou ao lado da maior parte das pessoas, inundados que estamos com notícias preocupantes por todo o mundo. Na Faculdade de Direito de Lisboa, em plena campanha eleitoral para a direcção da associação académica, da qual me orgulho de ter pertencido, uns seres acharam por bem afixar uns cartazes clara e objectivamente xenófobos, oferecendo “gratuitamente” pedras para serem atiradas a “zucas”, entre outros mimos.

Não deixa de ser irónico que tal tenha sucedido justamente no sítio onde se começa por aprender o princípio da igualdade e da não discriminação. Do mesmo modo, importa que se diga claramente que a AAFDL foi, muitas vezes, palco de grandes disputas mas não há memória de um comportamento tão acintoso e tão abjecto como o que agora ocorreu, sendo que o facto de ter ocorrido durante período eleitoral não diminui a gravidade mas, antes, a exponencia.

Não vale tudo. Nunca valeu tudo, mesmo nos momentos de maior crispação. Quem não olha a meios para atingir fins não é digno de, sequer, estar na corrida. E é preciso que se diga isto muito claramente, sob pena de sermos cúmplices de um comportamento racista que é indigno de um qualquer cidadão e, por maioria de razão, de estudantes de Direito.

Hemingway escreveu, no título que dá origem a estas linhas, “never be daunted”. Conseguir sobreviver tanto à intimidação quanto às cantigas doces, ainda que sob a forma de pedradas, é o grande exercício dos dias que correm. Numa época em que o conhecimento foi substituído pela quantidade de informação (quando não mesmo de verdadeira desinformação), a verdadeira vitória é, como já aqui escrevi, ter a capacidade de nos mantermos fieis aos nossos princípios, sem vacilar perante promessas de êxito fácil. De preferência, de pé. Porque o sol, esse, nasce sempre e, quando as nuvens se dissipam, o que fica é o que fomos capazes de fazer, sem batotas e sem demagogia barata.

(Foi, também e sem sombra de dúvida, o caso do Sporting, com a recente vitória no Futsal. No final, repita-se, o sol nasce sempre, mesmo quando o caminho nos parece de trevas.)

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.