Ja lá vão 60 dias de greve rotativa. Sessenta! Até ao momento nem uma resposta ao pedido de audiência levado ao Ministério da Administração Interna, nem um contacto por parte da Direção Nacional do SEF. E a espera e os atrasos amontoam-se como um enorme castelo de cartas, sensível à menor brisa, ameaçando ruir a qualquer momento.
Na passada semana fez-se justiça ao retirar-se do regime da Função Pública quer a Policia Judiciária quer o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Correção ao retirar a Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF, porque as restantes – informática, documental e até a obsoleta, mas ainda existente, carreira de segurança – e, ao contrário do que acontece com a PJ, ficam de fora.
Ora, esta situação vem colocar à evidência uma outra: as carreiras de documentação e de informática do SEF não pertencem ao MAI! Esclarecido fica pois o mistério e a razão pela qual a senhora ministra foi tão célere em falar com o sindicato aquando do plenário de trabalhadores no aeroporto (e bem!), fazendo de conta que nada se passa em relação ao restante pessoal que há quase três meses se encontra em greve rotativa. Pensávamos que a razão era porque a paralisação “não doía” aos poderes: não conseguia parangonas mediáticas e os elevados prejuízos resultantes da demora processual eram recuperados à custa de horas extraordinárias obrigatórias, cujo pagamento passaria, como é hábito, para as calendas. Doer a sério só aos imigrantes que desesperam por uma resposta face às suas pretensões.
Mas não, a razão afinal é outra. A senhora ministra da Administração Interna não tutela o SEF. Tutela apenas uma parte do SEF – a parte policial. Questão de farda…!
Resolvido o enigma e concluindo-se que não existe de facto uma total falta de responsabilidade, respeito e sentido de Estado, mas tão somente um vácuo tutelar, resta saber qual o ministério que detém de facto e de direito, a parte “civil”, e que garante a missão menos musculada e menos “repressiva” deste Serviço de Segurança. Até porque alguém terá que resolver a situação, já que varrê-la para debaixo do tapete ou negar à exaustão os números, não altera a realidade e esta diz que no final de abril uma grande parte dos ( já só!) 400 funcionários documentais e informáticos irão bater com a porta.
E não é solução viável a ideia peregrina de tudo funcionar online! Primeiro, porque quanto a sistemas operacionais de informática estamos conversados (a este propósito um abraço solidário aos médicos dos Centros de Saúde que se deparam com computadores do tempo das operações com clorofórmio). Depois, porque se trata de lidar com pessoas, a maior parte com baixo nível de literacia e altamente fragilizadas. Acabar com o fator humanista de qualquer serviço é torná-lo irremediavelmente pobre e ineficaz.
Já agora, se alguém souber o nome do mistério perdido é favor contactar. Agradecida.