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Filipe Pinhal: “Bancos não vão à falência por causa da insuficiência de capital mas por falta de liquidez”

Numa revisitação à guerra de poder no BCP, o ex-banqueiro Filipe Pinhal lembrou a crise de liquidez de 2008, na apresentação do livro de João Rendeiro.
20 Abril 2021, 17h57

O ex-presidente do Banco Comercial Português, Filipe Pinhal, participou, juntamente com Jaime Antunes, Manuel Ramalho (presidente do International Club of Portugal), Luís Mira Amaral e José Ferreira Martins (ex-cliente e também acionista do BPP) no lançamento do livro de João Rendeiro, “Em Defesa da Honra” que decorreu esta terça-feira no ICPT.

Numa revisitação à guerra de poder no BCP, Filipe Pinhal lembrou a Assembleia Geral de Maio de 2007 que é onde começa a divergência entre acionistas. Mais concretamente com o chumbo das propostas de Jorge Jardim Gonçalves de mudar os estatutos do banco (para dar ao Conselho Geral e de Supervisão poder para destituir os administradores executivos), que tinha subscrito.

“O seu ponto mais alto ocorre nas Assembleias Gerais de Agosto”, lembra Filipe Pinhal. “No final de Agosto o banco está em cacos, no dia 31 de Agosto o então presidente Paulo Teixeira Pinto, renuncia. Os acionistas vêm falar comigo para eu assumir a presidência do BCP, eu aceito, em defesa da estabilidade do banco e em meados de setembro desse ano cai o Lehman Brothers”, contou Filipe Pinhal.

Rapidamente em Portugal há a consciência que a falência do Lehman Brothers iria desencadear um tsunami em todo o mundo, e dá-se uma tremenda crise de liquidez nesse mês de Setembro, conta Filipe Pinhal que à data foi chamado ao Banco de Portugal.

O ex-presidente do BCP e histórico administrador do banco, também considerado o “pai” da antiga Nova Rede, relatou que o Banco de Portugal chamou os CEO (presidente executivo) e os CFO (administradores financeiros) dos cinco maiores bancos portugueses, em reuniões privadas com o Governador [à data Vítor Constâncio] e o vice-Governador [Pedro Duarte Neves], para apurar os impactos da crise de liquidez e como iriamos superar essa crise.

“Toda a gente sabe que os bancos não vão à falência por questões de insuficiência de capital, mas sim por falta de liquidez”, disse o ex-banqueiro.

Na altura o BCP passou pela crise de liquidez, porque havia linhas de crédito aprovadas e por isso todos os dias saía dinheiro do banco. “Todos os dias a nossa compensação era negativa, eram mais os cheques sacados sobre o BCP do que os cheques que o banco levava à compensação do BdP sacado sobre outros bancos”, disse Filipe Pinhal que adiantou que, na altura, o último recurso era o recurso a uma linha de liquidez do BCE que estava aberta desde que apresentadas as garantias convenientes.

Sobre o presidente que o sucedeu no BCP, Filipe Pinhal deixou uma crítica ao dizer que “a administração de Carlos Santos Ferreira fez precipitar sobre alguns clientes do banco pressões para pagarem e como não o conseguiram fazer na altura, endereçaram as culpas para os administradores anteriores”, disse o ex-banqueiro que considera um erro “cortar a meio uma operação de crédito e não a deixar atingir a maturidade”.

“Eu gostava que um dia fosse feito escrutínio das reestruturações de crédito que foram feitas ao Berardo e a Manuel Fino em 2008 e 2009, e já veríamos quem foi incompetente”, disse Filipe Pinhal.

“Gostaria que um dia fosse feita uma verdadeira auditoria aos créditos desvalorizados que os bancos, na sua generalidade, venderam aos fundos abutres que compraram por 20 o que valia 100 e a seguir foram vender por 120”, referiu ainda Filipe Pinhal.

O ex-presidente do BCP lembra que da crise financeira saíram combalidos todos bancos portugueses, exceto os que eram ou foram depois comprados por bancos espanhóis.

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