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Final de agosto marca o fim de uma era e o início de outra

O final do mês de Agosto trouxe um aperitivo da comoção que é expectável na ‘rentrée’ dos investidores em Setembro.
Shinzo Abe
28 Agosto 2020, 12h45

Depois de algumas semanas de ausência de factos interessantes no mercado, o final de Agosto trouxe um aperitivo da comoção que é expectável na reentré dos investidores em Setembro, assim como da recta final das eleições presidenciais norte-americanas.

Com efeito estes dois últimos dias foram palco para dois eventos que terão desenvolvimentos no médio-longo prazo e que por isso estão a condicionar o sentimento de mercado, refiro-me à nova política relativa à inflação por parte da Fed, que foi conhecida esta quinta-feira, e ao anúncio de resignação do cargo do primeiro-ministro japonês por parte de Shinzo Abe, devido a problemas de saúde que já o tinham obrigado a afastar em 2007.

Este segundo evento é o fim de uma era, denominada “Abenomics”, protagonizada pelo chefe de estado japonês que mais tempo esteve no cargo e que tudo tentou para revitalizar uma economia que teima em não dar sinais de pujança, ainda que tenha saído do longo período de estagnação que atravessou, de 1991 a 2010, com maior incidência nos dez primeiros anos.

Com Shinzo Abe, o Japão teve alguns períodos de brilho económico, mas de curta duração, suportados pela política de juros muito baixos aliado a uma constante injecção de liquidez no sistema por parte do banco central local, algo que não conseguiu evitar o impacto negativo que teve a subida do imposto sobre o consumo que entrou em vigor em Outubro de 2019. Esta medida precipitou a economia japonesa para uma contracção de 6,3% no último trimestre do ano passado.

A reacção dos investidores à notícia de afastamento de Abe teve maior impacto no mercado accionista, com o Topix a terminar a sessão desta sexta-feira com uma perda de -0,68%, após ter estado a subir durante quase todo o dia. Já o yen valorizou 0,5% face ao dólar americano para os 106.06.

No entanto, derivado ao outro evento que referi, a nova política anunciada por Jerome Powell que ao quebrar a longa tradição de ter um tecto máximo de 2% na inflação, abriu portas a uma nova era, uma em que este indicador económico pode exceder moderadamente o anterior tecto estando agora esse nível de 2% na média de médio-longo prazo e não no limite superior.

Esta alteração tem uma consequência implícita, a provável manutenção por muito mais tempo dos juros em níveis baixos bem como uma liquidez exorbitante no sistema, isto com o objectivo de suportar a maior economia na fase de recuperação do choque da pandemia de Covid-19, e o de conseguir aumentar a inflação para níveis mais saudáveis, dado que tem estado nos últimos anos recorrentemente abaixo do desejado.

A reacção do mercado a esta nova direcção da política monetária ainda está a ser digerida, contudo e apesar de uma retracção dos índices norte-americanos ontem logo depois desta ser conhecida, o S&P500 ainda conseguiu recuperar e registar um novo máximo histórico, ao passo que o Nasdaq cedeu ligeiramente com os investidores a decidirem retirar algum risco de cima da mesa, nomeadamente nos títulos que mais subiram nas últimas semanas.

No mercado cambial o panorama é hoje de fraqueza considerável no dólar americano, que recua -0,5% dando o impulso necessário para que o EUR/USD tenha quebrado em alta os $1,19, assim como deu fôlego ao preço do ouro, que segue a valorizar mais de 1% para os $1,958 por onça.

O gráfico de hoje é do EuroStoxx50, o time-frame é mensal.

 

O gráfico do activo que agrega as principais empresas europeias não deixa margem para dúvidas, o andamento dos índices norte-americanos, S&P500 por exemplo, é muito superior.

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