A pandemia de Covid-19 tem sido tremendamente negativa nos seus impactos. Além da evidente crise de saúde pública, com mortes, doentes mais ou menos graves e um desafio brutal ao sistema de saúde, trouxe ainda uma perturbação enorme nas nossas vidas e nas nossas rotinas, para alguns solidão, para outros casas demasiado cheias.
Trouxe disrupções no funcionamento da economia, local e global, trouxe desemprego, agravou a pobreza e as desigualdades. E obrigou uma grande parte de nós a aprender a teletrabalhar. Foi um desafio enorme estar em casa, com filhos pequenos, cães e gatos, má internet, pouco espaço e novas e inúmeras plataformas de trabalho remoto.
O teletrabalho foi uma necessidade e sem uma causa tão premente, provavelmente nunca se teria avançado como avançou. Devemos, por isso, refletir nas aprendizagens e construir em cima destas para que o regresso não seja ao passado mas sim a um novo futuro.
Provou-se, finalmente, que o teletrabalho é possível. Obviamente que de forma muito distinta para diferentes profissões, mas sim, possível. Mais, é-o sem perdas de produtividade. E é-o, para muitos, com ganhos na forma como passaram a gerir o seu dia a dia. Reuniões que exigiam deslocações fora da cidade ou do país, e consequentemente a perda de um dia inteiro de trabalho, passaram a ser feitas remotamente. As horas no trânsito que nos faziam chegar tarde a casa, ou, para evitar horas de ponta, cedo demais ao trabalho, deixaram de ser um motivo de ansiedade.
Com os filhos na escola, as idas ao escritório possíveis e o acesso generalizado a internet de qualidade e a computadores portáteis, estão reunidas as condições para se romper com o modelo tradicional, tipicamente 100% presencial, e definirmos formas híbridas de trabalho.
As organizações têm que passar a incorporar o teletrabalho na sua forma de organização. Têm que definir, em conjunto com os trabalhadores, formatos que se adequem a ambos. Têm que pensar em regimes híbridos em que o local de trabalho é flexível e móvel.
Aproveitar as novas soluções que vão aparecendo, nomeadamente espaços de coworking que permitem distâncias curtas de viagem, boa internet, socialização, mas dentro de um conceito de cidade dos 15 minutos. Pode-se permitir tempos em casa e tempos presenciais, com rotação de equipas e menos necessidade de espaço físico nas empresas. E, definitivamente, pode-se diminuir as viagens para reuniões fora com as inegáveis vantagens de tempo e diminuição da pegada ambiental.
Evidentemente, tudo isto exige regras claras de funcionamento. Tem que se dar condições aos trabalhadores para estarem em casa a trabalhar. Tem que haver a obrigatoriedade do shutdown efetivo e tem que haver partilha de custos. Para o teletrabalho não voltar a desaparecer e poder crescer e transformar-se, transformando as instituições, tem que haver regulação.
Ao Estado cabe definir o enquadramento que potencie e incentive estes novos modelos. Que garanta que a nova realidade é formatada e desenhada com base na experiência e maximizando os benefícios da era digital. Que defina as regras pelas quais se pode ficar a trabalhar em casa, com que horário de trabalho, com que condições, com que periodicidade.
E cabe-nos a todos ajudar a implementar estes modelos novos para que fiquemos com um mundo laboral mais saudável e equilibrado.