Uma jornalista perguntou a Rui Rio, presidente do PSD, se tinha lido o artigo do “Financial Times” do dia anterior (25/08/2019) sobre Portugal. Rio respondeu que sim. A jornalista perguntou-lhe qual o comentário que fazia à opinião do jornal. A resposta de Rio revelou que não tinha lido o artigo. Ou se leu, não percebeu.

Começou por desvalorizar o artigo dizendo que era só uma opinião. E depois continuou naquele seu arrazoado que ninguém entende e que nada tinha a ver com o artigo.

O problema agrava-se quando se fica a saber que o artigo intitulado “Portugal’s bright outlook offers Europe some hope” é assinado pelo Editorial Board do “Financial Times”, ou seja, pelo coletivo dos principais editores do jornal, não se tratando da opinião de um colunista individual.

A opinião do Editorial Board é a de maior peso na imprensa anglo-saxónica, porque resulta do consenso dos jornalistas mais credenciados do jornal. Além desta opinião qualificada, o FT tem entre os seus colunistas alguns cuja opinião é obrigatório seguir e que contribuem decisivamente para que este seja um dos mais influentes jornais de todo o mundo. Não há líder político digno desse nome que não siga o “Financial Times” com atenção.

Pior ainda. Se Rio tivesse lido o artigo teria ficado a saber que o editorial do FT considera que o atual Governo beneficiou de cinco fatores:

  1.  Sorte
  2. Recuperação da economia global
  3. Boom do turismo
  4. O trabalho do anterior governo PSD/CDS
  5. A anti austeridade dissimulada do PS.

Tudo, mas tudo, coisas que Rio poderia ter aproveitado a seu favor se tivesse lido o artigo ou se o seu assessor de imprensa tivesse feito o trabalhinho de casa e o resumo que eu estou aqui a oferecer.

O Editorial diz: “A aliança [PS/PCP/BE] não pode receber todo o crédito pela recente sorte de Portugal. A recuperação global e o boom do turismo internacional desempenharam papéis importantes. Assim como o difícil, mas necessário trabalho do anterior governo de centro-direita, que implementou um programa de austeridade entre 2011 e 2014, em troca de um resgate de 78 mil milhões de euros do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do FMI.

“A medida ajudou a reduzir o déficit orçamental e a reforma do setor público. Também empurrou o país para a pior recessão em quase quatro décadas, provocando um êxodo em massa de trabalhadores. Fazendo campanha na última eleição no final desse período, o astuto senhor Costa beneficiou do legado dessas ações duras de centro-direita, mesmo quando se apresentou como um candidato anti austeridade.”

Mais ainda, o editorial diz que António Costa deve “continuar no caminho agora comprovado de prudência fiscal, mas sem austeridade punitiva. O primeiro-ministro também deve realizar reformas mais profundas da administração pública desatualizada. Há trabalho a ser feito também no setor bancário, embora a estabilidade no setor tenha melhorado significativamente nos últimos anos.”

O editorial termina com um aviso a todos os políticos portugueses, revelando que eles “lá fora” sabem bem o que aqui se passa ao revelarem que sabem que não há uma estratégia para Portugal, um pormenor que aqui tenho referido várias vezes. Diz o FT: “À medida que economia mundial acumula nuvens de tempestade, Portugal deve ter uma visão mais clara da sua futura orientação e estratégias económicas.”