As últimas três semanas ficaram marcadas por quedas acentuadas nos mercados relembrando políticos e banqueiros centrais da necessidade de acções concretas para recuperar a economia, e não de meras promessas.

As negociações comerciais entre os Estados Unidos e o Mundo, onde se incluem a China e a Europa, começam a ter impacto real nas empresas e na paciência dos investidores. Mas, no último ano, e desde a forte queda dos mercados no último trimestre de 2018, a abordagem dos vários actores mudou, com mais tweets, mais intervenção verbal.

Vejamos a última semana. Após quedas violentas nos mercados, começou a circular um rumor de que a Alemanha poderia implementar um pacote de estímulos na ordem de 50 mil milhões de euros. Parecendo muito, cerca de 25% do PIB português, na realidade é uma gota de água no oceano europeu e com poucos efeitos práticos, apesar de os mercados europeus terem recuperado.

Na mesma semana surgiu a confirmação de que as negociações entre Estados Unidos e China afinal não estão mortas, o diálogo vai ser retomado. Paralelamente, o Governador do Banco Central da Finlândia, Olli Rehn, veio preparar os investidores dizendo que o BCE tem de apresentar um pacote de estímulos e de surpreender o mercado. Nunca tantos intervenientes estiveram tão preocupados com os sinais que o mercado está a transmitir, o de uma recessão a curto prazo.

A inversão da curva das taxas de juro entre o curto e o longo prazo, indicia que nas próximas décadas os bancos não terão capacidade de remunerar os depósitos, colocando em risco todos os cidadãos que pouparam durante décadas, forçando-os a escolher investimentos de risco. A emissão da Alemanha a 30 anos, com taxas negativas, ilustra bem essa situação. Portugal também se encontra nesse clube, com as taxas a 10 anos próximas de zero.

A reestruturação e renegociação pedida por muitos políticos em diversos países durante o período da crise financeira, está a ocorrer neste momento nos mercados, de uma forma organizada e consciente. Por um lado, os países conseguem emitir em maturidades mais longas, por outro recebem para emitir.

Esta é pois uma oportunidade para os países e empresas da zona euro se financiarem e lançarem em conjunto um programa de construção de infra-estruturas em larga escala, tendo em vista a adopção de novas tecnologias nas próximas duas décadas. A tecnologia 5G e as revoluções digitais, em conjunto com as alterações climáticas, vão obrigar a avultados investimentos (leia-se biliões), que agora podem ser feitos a custo zero. Este é o momento de reduzir impostos e de aproveitar as condições únicas proporcionadas por uma guerra cambial para renovarmos o sonho europeu.

Com o fim do Verão chegarão também as reuniões dos bancos centrais, quiçá as mais importantes dos últimos anos, na medida em que irão definir se teremos ou não uma recessão.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.