[weglot_switcher]

Financiamento para salvar TAP poderá vir do maior banco chinês

O Banco Industrial e Comercial da China é um dos bancos com que a TAP se prepara para negociar um crédito até 375 milhões para enfrentar a crise.
17 Abril 2020, 08h01

A TAP vai necessitar, a partir de junho, entre 350 a 375 milhões de euros, que terão de ser pedidos a bancos estrangeiros para fazer face ao impacto na economia provocado pelo novo coronavírus. O empréstimo será montado com o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), o maior banco na República Popular da China, e mais duas instituições financeiras internacionais. Fundos de investimentos já sinalizaram também interesse em participar da operação que terá o aval do Estado, revelou ao Jornal Económico fonte próxima ao processo.

“O empréstimo entre 350 milhões e 375 milhões de euros vai ser negociado com dois ou três bancos estrangeiros e o Governo já recebeu o pedido da transportadora aérea nacional para que o Estado seja a garantia dos empréstimos”, revelou a mesma fonte. O JE sabe que o ICBC é um dos bancos que a TAP está a negociar o empréstimo com aval do Estado, sendo apontada como “a melhor solução do ponto de vista das Finanças Públicas” face à hipótese de empréstimo obrigacionista convertível em ações. Esta última hipótese “não é tão favorável” devido ao acréscimo de responsabilidades financeiras para o Estado o que ainda, assim, não exclui que este venha a reforçar no futuro a sua posição acionista na transportadora nacional.

Questionada sobre a operação de empréstimo, fonte oficial da TAP não faz comentários.
Este financiamento servirá para estabilizar as contas da TAP este ano e será acompanhado de um pacote de medidas para o setor para mitigar os efeitos financeiros, técnicos e administrativos provocados pela pandemia da Covid-19 que levaram a TAP a parar praticamente a sua operação. Plano de resgate surge após Bruxelas ter sinalizado que a crise covid-19 tornou-se “um golpe de proporções sem precedentes” para o setor.

Fonte próxima ao processo avançou ao JE que “a TAP tem caixa até início de junho”. Com os aviões da TAP quase todos em terra e sem entrar dinheiro na empresa, o Governo e administração procuram agora soluções para fazer face aos compromissos financeiros até ao final do ano. Só em leasing de aviões, por exemplo, a TAP tem de pagar mais de 400 milhões de euros por ano.

O acionista privado Humberto Pedrosa, que com David Neeleman controla através da Atlantic Gateway 45% da TAP, tem defendido nos últimos dias que a transportadora aérea “apenas precisa de ajuda do Estado, como precisam todas as companhias”, tendo já considerado em recente entrevista ao JE que a nacionalização “seria dar um passo atrás”.

As medidas em estudo
O plano de resgate que o Executivo está a desenhar para o setor inclui outras medidas como o diferimento do pagamento de impostos e contribuições à Segurança Social como a TSU e o IRS retido aos colaboradores, a isenção de taxas aeroportuárias durante um ano e da TSU a cargo da entidade empregadora. Juntam-se ainda moratórias de créditos e a possibilidade de passar a reforma antecipada a partir dos 60 anos, em regime de adesão voluntária, tal como o JE avançou em primeira mão e que foi ontem confirmado pelo chairman da companhia, Miguel Frasquilho, no Parlamento.

O pacote de medidas segue já a flexibilidade das regras europeias que permitirá financiamentos com garantia do Estado para ultrapassar os efeitos provocados pela pandemia do novo coronavírus que levaram a TAP a recorrer ao lay-off.

“Pedido de auxílio” ao Estado conhecido em breve
“Este é o momento mais delicado dos 75 anos de existência da TAP”, disse ontem o chairman da companhia numa audição no Parlamento, tendo Miguel Frasquilho avançado que a transportadora vai “conhecer em breve” o “pedido de auxílio” ao Estado português.
“O mercado deixou de existir”, sublinhou, apontando que mesmo as “companhias aéreas mais robustas e com maior capacidade económica” estão a sofrer as consequências da crise da Covid-19. Segundo Frasquilho, “essas companhias só continuarão a existir com apoios públicos dos estados soberanos” e “a TAP não será uma exceção”.

Sinaliza ainda que “quem ajuda impõe condições” e diz que “uma eventual nacionalização não pode ser descartada”, o mesmo acontecendo com um reforço da posição por parte do acionista Estado, que tem hoje 50% da companhia aérea. Para Miguel Fransquilho “nenhum cenário pode ser descartado”, apontando que tudo “vai depender também da capacidade dos acionistas de poderem recapitalizar a empresa”.

Costa admite nacionalização
Depois do ministro das Finanças já ter admitido esta hipótese, o primeiro-ministro também admitiu nesta terça-feira, 14 de abril a possibilidade de nacionalização da TAP, reconhecendo que “é uma empresa absolutamente estratégica para o país”.

“Obviamente que não podemos excluir a necessidade de nacionalizar a TAP, ou outra empresa que seja fundamental para o país e que não podemos correr o risco de perder no final desta crise”, disse António Costa esta terça-feira,14 de abril, em entrevista à rádio Observador, destacando que o “Estado felizmente já é acionista” da TAP.

Artigo publicado na edição nº 2037, de 17 de abril, do Jornal Económico

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.