Entre as novas profissões surgidas do mundo digital, os influencers despertam muita curiosidade, sobretudo entre os mais novos. E onde há curiosidade, há perigos à espreita!

Os influencers influenciam decisões de vida e estilos de vida dos seguidores, fazendo das suas recomendações o seu ganha-pão. No caso dos finfluencers a lógica é a mesma, aplicada aos investimentos financeiros; os finfluencers são influencers financeiros.

O perigo espreita desde logo na circunstância de os finfluencers poderem, apenas com a sua popularidade, influenciar outras pessoas a aplicar dinheiro, sem qualquer preparação ou conhecimento.

A crise bancária e financeira de 2007/2008 que resultou no colapso de gigantes bancários por todo o mundo, e também em Portugal, gerou uma outra crise muito mais profunda, uma crise de confiança dos clientes bancários, da qual os sistemas bancários apresentam sequelas ainda hoje.

Diariamente, o Banco de Portugal e a CMVM divulgam alertas de pessoas e entidades não autorizadas a prestar consultoria financeira, mas as redes sociais continuam povoadas por finfluencers, cujas vidas de sonho exercem fascínio junto dos seguidores e conduzem a decisões não informadas de aplicação de dinheiro em acções, ETF, derivados, criptos, contas de gestão de carteira, etc.

A lei é muito protectora dos investidores não profissionais, restringindo a actividade de aconselhamento financeiro aos intermediários financeiros, aos quais impõe que a informação transmitida seja sempre completa, verdadeira, actual, clara, objectiva e lícita.

A ambição de “fazer dinheiro com dinheiro” é legítima e o dinheiro dos depósitos bancários pouco ou nada rende, mas os próprios bancos e demais intermediários financeiros autorizados têm serviços de consultoria de investimento, onde se incluem sistemas algorítmicos, através dos quais qualquer pessoa pode saber a tipologia de produtos financeiros adequados ao seu perfil pessoal, financeiro, patrimonial e de propensão ou aversão ao risco.

A informação financeira vinda das redes sociais e dos finfluencers nunca é boa nem esclarecida, porque os seus conselhos são de mera conjuntura, parciais ou ilusórios e, acima de tudo, os influenciadores financeiros não são escrutinados pelas entidades reguladoras do sistema financeiro.

Uma boa decisão de investimento é necessariamente uma decisão informada, daí que os deveres mais importantes que a lei impõe às entidades autorizadas a prestar assessoria e aconselhamento financeiro são deveres de informação, densificados nas obrigações de conhecer o cliente (Know Your Client – KYC), de adequar o aconselhamento ao perfil individual de cada investidor e de prestar informação tanto mais detalhada quanto menor for o conhecimento e experiência do cliente com investimentos financeiros.

As redes sociais são uma montra onde a vida é sempre bela e com o dinheiro não se deve correr o risco de seguir tendências.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.