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FinTech provocaram a disrupção da cadeia de valor da banca

Parece consensual entre ‘experts’ que o futuro dos bancos passa por entrarem nas ‘apps’ do telemóvel e que as FinTech vão ser os seus parceiros da inovação tecnológica.
19 Abril 2019, 10h00

O aparecimento de soluções disruptivas por meio de empresas tecnológicas financeiras (FinTech) está a provocar mudanças profundas na cadeia de valor do sistema financeiro, em particular ao nível dos serviços de pagamentos. Assiste-se à ascensão galopante de métodos de pagamento suportados por dispositivos móveis. Mas a intervenção das FinTech não se fica por aí.

As empresas tecnológicas de serviços financeiros atuam em diversas atividades da cadeia de valor do sistema financeiro e há quem defenda que em alguns casos, não são concorrentes da banca. Parece consensual entre os ‘experts’, que o futuro dos bancos passa por entrarem nas ‘apps’ do telemóvel e que as FinTech vão ser os seus parceiros da inovação tecnológica dos serviços financeiros.

Há cada vez mais FinTech a atuarem em áreas diferentes que, tradicionalmente, eram desempenhadas exclusivamente pelos bancos. Os chamados neobanks estão já a entrar nas áreas em que só a banca podia entrar. Por exemplo, o N26 (Number 26) e o Revolut são dois dos principais neobanks que mais se destacaram no mobile banking. O Revolut, em dezembro, obteve a licença bancária europeia.

Também a portuguesa Raize — empresa de crowdlending — anunciou que vai criar um marketplace de depósitos bancários. O anúncio foi feito este ano e este marketplace de depósitos bancários “vai permitir aos milhares de utilizadores da Raize aplicar as suas poupanças com taxas de juro mais atrativas junto de bancos nacionais”, segundo o comunicado enviado à CMVM na altura.

A FinTech portuguesa explicou em comunicado que, através do marketplace de depósitos da Raize,  vai ser possível abrir contas bancárias junto de bancos nacionais sem qualquer custo para o depositante. “Investir através da Raize é totalmente gratuito e, na nossa lógica, deve continuar a sê-lo”, lê-se no comunicado publicado na CMVM. “Os depósitos ficam abrangidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos e vão poder ser constituídos até 100 mil euros por instituição bancária”, garante a Raize no mesmo comunicado. Este é um exemplo de uma parceria com a banca tradicional. Para os bancos mais pequenos que queiram captar depósitos, esta ferramenta pode ser muito útil.

As FinTech, startups ágeis que desenvolvem tecnologia financeira, vieram para ficar, mas os bancos tradicionais não vão desaparecer, tem sido defendido em vários fóruns sobre a digitalização dos serviços financeiros. Recentemente, Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal, veio dizer que as FinTechs “ajudam o sistema financeiro a reinventar os modelos de negócio tradicionais e a criar serviços mais customizados às necessidades dos clientes, que, por sua vez, são cada vez mais exigentes e digitais”.

António Ramalho, CEO do Novo Banco, por sua vez, defende que o que mudou na banca foi um alargamento dos meios de aproximação aos clientes.

Na Finance Week da Nova SBE, que decorreu no início do mês, discutiu-se a simbiose esperada entre estas startups de serviços financeiros e os bancos. Porque é que são complementares? Porque as FinTech são mais ágeis e podem criar soluções espontâneas, mas não têm a marca, nem a credibilidade da base de clientes dos bancos, defenderam os participantes no debate que decorreu na Universidade Nova.

Por exemplo, Bernardo Meyrelles, responsável pela sucursal Deutsche Bank Portugal, começou por defender que a grande mais-valia virá da simbiose das FinTech com a banca tradicional, uma vez que aquelas são complementares destas. Por sua vez, António Ramalho, defendeu que na era da digitalização a banca precisa de uma solução biónica, isto é, uma solução física e eletrónica em simultâneo e citou o caso do digital Banco Best que deve o seu sucesso à presença física em balcões, tal como de resto o ActivoBank do BCP.

“Os novos hábitos criaram novas expectativas” para os consumidores, uma vez que estes querem respostas e soluções rápidas para os seus problemas e necessidades, defendeu recentemente, na primeira Conferência Ibérica sobre FinTech, a CEO do Banco Montepio, Dulce Mota. A CEO defendeu  que “as FinTech têm uma característica muito curiosa: a de se focarem em nichos de mercado, onde se tornam especialistas, e nessa medida são clusters da própria banca”.

O já batido “level playing field”, é defendido por quem considera importante garantir que outros operadores (as FinTech) que de­senvolvam o mesmo tipo de atividade que os bancos estejam sujeitos ao mesmo quadro regulatório. “A nova arquitetura e os novos modelos de negócios seguidos pelos prestadores de serviços de pagamento obrigam a uma resposta multidisciplinar dos bancos centrais e reguladores, exigem novas abordagens, recursos e competências, de forma a maximizar as oportunidades e a minimizar os riscos para a sociedade”, tem defendido Carlos Costa, governador do Banco de Portugal. Também o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Fernando Faria de Oliveira, tem vindo a defender a aplicação do mesmo quadro normativo para todos os intervenientes do setor bancário “porque é a atividade que este exerce que deve ser regulada e supervisionada”. As FinTech já têm de cumprir os requisitos da segunda diretiva de serviços de pagamentos (PSD2), por exemplo.

No que toca às atividades de corretagem, não há Fintechs em Portugal ainda nessa área, mas há muito que a internet veio democratizar o investimento nos mercados financeiros, e as plataformas online de trading estão cada vez mais flexíveis.

Antes, era necessário contactar com bancos ou corretoras para negociar ações, hoje basta ter acesso à internet para poder investir a partir de qualquer lugar. Por exemplo, o ActivoBank acaba de lançar a ‘App ActivoTrader’, que permite acompanhar a evolução dos mercados de forma efetiva.

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