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Fintechs querem mais criptomoedas em pagamentos e gorjetas

A startup portuguesa Classihy, que criou um sistema para digitalizar o dinheiro extra dado a colaboradores de restaurantes e hotéis, está a estudar um mecanismo para que os consumidores o façam com moedas virtuais.
29 Maio 2021, 14h00

As fintechs, oriundas da Quarta Revolução Industrial, fizeram com que a gestão do dinheiro passasse a poder ser feita por smartphone, os balcões dos bancos perdessem relevância e as transferências deixassem de exigir números de conta, bastando os de telefone. Mas, ultrapassado o estigma de que seriam o inimigo da banca, estas empresas tecnológico-financeiras querem mais soluções internacionais em Portugal e moedas virtuais nas compras rotineiras.

Sebastião Lancastre, fundador e CEO da Easypay, não duvida de que foram as fintechs que permitiram às empresas ter hoje sistemas de pagamentos mais simples e eficientes. No ano em que irrompeu a pandemia, e negócios tradicionais como farmácias tiveram de criar canais de venda online, mais 5.100 clientes aderiram à Easypay, o que representou um disparo homólogo de 86%. “Por outro lado, muitas empresas tradicionais decidiram finalmente acelerar o processo de digitalização dos pagamentos apresentando desafios nos pagamentos aos quais a Easypay desenvolveu respostas adaptadas às necessidades de cada um”, afirma ao Jornal Económico (JE). A instituição financeira garante que irá vai manter o foco na inovação para poder disponibilizar aos comerciantes uma maior taxa de conversão no momento de pagar. É disso exemplo o “processo de check-out sem fricção nos pagamentos”, que será alargado a outras plataformas de e-commerce além do Shopify, através de novos plug-ins, até ao final do ano.
Segundo a Associação Ação para a Internacionalização (AAPI), o que explica o “enorme crescimento” destas empresas nos últimos anos é o facto de, “ao contrário” dos chamados incumbentes, as fintechs põem na sua proposta de valor “tornar mais fácil a vida das pessoas e das instituições sempre primeiro, possibilitando o acesso a serviços de qualidade e à resolução de problemas com segurança e rapidez”.

A Viva Wallet, que opera com terminais de pagamento inteligentes, trabalha com diversas empresas portuguesas para permitir que nos seus TPA façam pedidos de mesa, recebam pagamentos com cartão e emitam faturas. Contudo, o country manager em Portugal da fintech grega alerta para que a inovação poderia ir mais além. “O mercado nacional de pagamentos tem tido alguns atrasos na disponibilização de soluções digitais por estar muito focado nas nacionais. Por exemplo, os pagamentos contactless (sem contacto), ou soluções como a Apple Pay ou a Google Pay, standards fora de Portugal, tardiamente chegaram ao nosso país”, adverte Pedro Saldanha.

A startup portuguesa Classihy digitaliza aquele dinheiro que damos quando queremos porque queremos – gorjetas – sem que os consumidores tenham de instalar mais apps no telemóvel. A empresa desenvolveu um sistema de feedback direcionado para negócios através do qual o cliente pode avaliar (na prática elogiar, pois só há classificações positivas) os funcionários de restaurantes e hotéis e gratificá-los por QR code. Ou seja, as gorjetas podem ser mais digitais do que apenas acrescentar a “tip” no terminal de pagamento. Só em 2020 houve mais de 2 mil empresas da restauração e hotelaria a juntar-se à plataforma e cerca de 12 mil utilizadores, pelo que o próximo passo será alargar a outros sectores, como entregas, saúde ou retalho.

O confundador Miguel de Melo considera que a digitalização do dinheiro ainda está repleta de incerteza e apela à redução no valor das transações bancárias. “Falta ainda vulgarizar a utilização das criptomoedas em pagamentos do dia a dia. Estas estão a ganhar um papel cada vez mais preponderante na vida financeira das pessoas, mas ainda não têm expressão em termos de utilização no quotidiano. Estamos a estudar os mecanismos que possibilitem as gratificações digitais diretamente com criptomoedas, em vez de utilizar a moeda de um determinado país”, avançou ao JE.

O empreendedor Diogo Mónica trata as moedas digitais por “tu” e, mais do que envolver os cidadãos neste ecossistema, pretende que as instituições invistam nele. O cofundador e CEO da Anchorage Digital, que foi aprovada como banco de criptomoedas nos Estados Unidos, refere que a interação entre empresas e criptomoedas tem de ser “familiar” e, simultaneamente, “segura para os seus clientes”. “Um dos maiores desafios a que as fintech procuram responder é a procura de soluções para o acesso a mecanismos financeiros. Já conseguiram trazer vários serviços financeiros para plataformas móveis, tornando-os mais acessíveis para o público em geral. No entanto, o acesso aos ativos digitais continua a ser limitado. Acredito que a indústria financeira tradicional está no ponto ideal para inovar os seus processos como, por exemplo, otimizar os tempos de liquidação de dívida através de pagamentos além-fronteiras, recorrendo a tecnologias baseadas em blockchain”, defende.

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