Os 20 grandes bancos europeus cobertos pelo relatório da Fitch tiveram um desempenho misto no quarto trimestre de 2020, avança a agência num relatório publicado esta semana.
Restrições económicas renovadas, a pressão de margem, imparidades para fazer face à redução do valor recuperável do crédito e custos de reestruturação em alguns bancos afetaram os resultados do quarto trimestre, mais do que no 3º trimestres de 2020.
As atividades dos bancos de retalho continuam a sofrer com as baixas taxas de juros.
As imparidades para crédito quase estabilizaram no quarto trimestre de 2020 em comparação com o terceiro trimestre de 2020, mas permaneceram significativamente acima dos níveis de 2019, pressionando os lucros operacionais.
O lucro operacional agregado dos 20 bancos reduziu-se em mais de um terço em 2020, em linha com o desempenho dos nove meses de 2020.
O lucro operacional médio sobre os ativos ponderados pelo risco (RWAs) caiu 1,1% e a rentabilidade (ROE) recuperou ligeiramente no trimestre, mas ainda para uns modestos 4%.
A disciplina rígida de custos juntamente com uma reestruturação “devem apoiar a melhoria contínua do rácio de eficiência a partir de 2021, enquanto esperamos que algumas atividades sejam duramente afetadas pelas medidas de bloqueio económico”.
Foram os ganhos elevados nos mercados de capitais e os negócios de assessoria, mais uma vez, que apoiaram os bancos com fortes receitas, diz a Fitch.
No grupo analisado não há nenhum banco português. O grupo de 20 é compostos pelos Banco Bilbao Vizcaya Argentaria; Banco Santander; Barclays plc; BNP Paribas; CaixaBank; Credit Agricole; Credit Suisse Group; o Danske Bank; o Deutsche Bank; o francês Groupe BPCE; o HSBC Holdings plc UK; o ING Groep; o Intesa Sanpaolo; o Lloyds Banking Group; o finlandês Nordea Bank; o NatWest Group UK; o Societe Generale; o Standard Chartered UK; o UBS Group e o italiano UniCredit S.p.A.
Para o futuro, a Fitch espera lucros mais altos no primeiro trimestre de 2021, apesar da pressão persistente nas receitas da banca de retalho, devido ao ambiente de baixas taxas e elevados fluxos de depósitos.
A receita das atividades de banco de investimento e mercado de capitais em 2021 deve normalizar gradualmente, mas provavelmente permanecerá acima dos níveis pré-pandemia, beneficiando os bancos com marcas mais fortes nesses segmentos, diz a Fitch.
Os grandes bancos europeus devem estar preparados para manter as imparidades para crédito e os empréstimos improdutivos (NPL) sob controle, mas isso dependerá parcialmente da magnitude da recuperação económica, diz a Fitch.
No que toca à qualidade dos ativos, ela está apoiada por instrumentos governamentais de apoio aos clientes, mas esse benefício irá desaparecer gradualmente, lembra a agência.
A qualidade dos ativos dos grandes bancos europeus continuou a beneficiar das medidas de apoio dos governos e dos cenários macroeconómicos estáveis ou ligeiramente melhores no 2º semestre de 2020, altura que já incluía alguma degradação da carteira de crédito. O stock de moratórias ativas de crédito continuou a diminuir no 4º trimestre de 2020, com os clientes a retomar os pagamentos regulares.
Os rácios de malparado nas moratórias expiradas foram modestos, geralmente abaixo de 5%, diz a Fitch. No entanto podem aumentar ligeiramente, sendo que a Fitch estima que não ultrapasse os 5% do crédito bruto para a maioria dos 20 bancos no final de 2020.
Outras medidas de apoio do governo lançadas após os renovados bloqueios económicos no 4º trimestre de 2020 e início de 2021 devem travar a extensão da deterioração da qualidade do ativo no 1º semestre de 2021, defende a análise da agência de rating.
Mas os grandes bancos europeus já começaram a reconhecer que alguns podem, em última análise, enfrentar dificuldades de reembolso dos créditos. A Fitch estima que os empréstimos que passaram para o stage 2 (crédito em risco) nos 20 grandes bancos europeus aumentaram moderadamente para atingir cerca de 10% do valor bruto do crédito no final de 2020.
A Fitch estima que a deterioração da qualidade dos ativos seja gerível. No final de 2020, o rácio médio de empréstimos com imparidade manteve-se inalterado em relação ao trimestre anterior, fixando-se em 2,7% do total da carteira e abaixo do rácio de 3% pré-pandemia. Nesse nível, grandes bancos europeus estão numa boa posição para absorver a esperada deterioração da qualidade do ativo, diz a agência. Metade de os bancos relataram um rácio de empréstimos com imparidade mais elevado em 2020 do que em 2019, mas a mudança foi insignificante, diz o comunicado.
A Fitch diz que as imparidades para crédito caíram em 2021 face a 2020, no entanto ainda estão acima dos níveis pré-crise pandémica.
O menor rácio de créditos com imparidade para os 20 bancos não reflete apenas o crescimento sustentado dos empréstimos apoiado por garantias do Estado, mas também o progresso na gestão ativa de empréstimos problemáticos, especialmente em instituições com níveis historicamente mais elevados de empréstimos depreciados. O stock de empréstimos com imparidade reduziu-se 3% em 2020 para cerca de 280 mil milhões de euros, mais uma vez impulsionado pelos UniCredit e Intesa, que continuaram a alienar montantes significativos de empréstimos depreciados.
O rácio de cobertura do malparado por imparidades aumentou para uma média de 67% no final de 2020 face ao rácio de cobertura de 59% no final de 2019, com os maiores aumentos a serem registados nos bancos espanhóis, britânicos e no finlandês Nordea.
Apesar das abordagens mistas no que toca à constituição de provisões baseadas no modelo IFRS 9, as imparidades para crédito dos 20 bancos parecem ter atingido o pico no primeiro semestre de 2020. A maioria dos bancos espera ter que constituir menos imparidades para crédito em 2021 do do que em 2020, embora ainda sejam superiores às imparidades para crédito em 2019.
A Fitch Ratings calcula que as imparidades para crédito mais do que duplicaram em 2020 e alcançaram cerca de 74 pontos-base do valor total do crédito bruto. O aumento resultou principalmente de provisões para créditos de recuperação duvidosa em antecipação à deterioração da qualidade dos ativos, principalmente no primeiro semestre de 2020, ao passo que alguns bancos foram mais conservadores no provisionamento para evitar libertações de provisões baseadas em modelos macroeconómicos no 4º trimestre de 2020.
A qualidade dos ativos dos grandes bancos europeus tem sido mais resiliente do que o inicialmente previsto. O grande apoio estatal aos clientes dos bancos que têm empréstimos, as linhas de crédito a empresas garantidas pelo Estado e as moratórias impediram os fluxos de entrada do crédito em malparado.
Os bancos também venderam ativamente carteiras de NPL para mitigar o impacto da crise e fizeram write-offs de créditos irrecuperáveis.
Os buffers de capital foram geridos com prudência em 2020 e forneceram espaço suficiente para acomodar a degradação da qualidade dos ativos e a pressão sobre a rentabilidade em 2021 na maioria dos grandes bancos europeus.
O rácio médio de common equity Tier 1 (CET1) melhorou ainda mais no 4º trimestre de 2020 para cerca de 15%. Os bancos continuam a enfatizar a necessidade de preservar o capital em condições externas incertas.
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