O turismo e a hospitalidade continuam a crescer de forma sustentada, a nível global e nacional. Em 2024, o setor de viagens e turismo representou cerca de 10% do PIB mundial (UNWTO). Em Portugal, esse valor foi de 9,7% do PIB e deverá alcançar 10,5% até ao final de 2025 (fonte: Turismo de Portugal).
Este dinamismo reflete-se também no mercado de trabalho; no 2.º trimestre de 2025, o setor empregava já 337.800 pessoas em Portugal, representando 6,4% da economia nacional. No entanto, a formação de talento não acompanha este ritmo. Apesar do crescimento anual de 3% do número de estudantes matriculados no ensino superior (fonte: DGEEC), apenas 2% do total dos alunos frequentam cursos superiores no turismo. Este desfasamento é mais um contributo, entre outros, para as baixas remunerações em alojamento e restauração, que, segundo o INE, estão 32% abaixo da média nacional.
Neste cenário, as universidades portuguesas têm uma oportunidade única para assumir um papel transformador na sustentabilidade do Turismo e da Hospitalidade. Essa contribuição pode materializar-se em várias dimensões:
- Alinhamento curricular e abordagem multidisciplinar; o setor integra múltiplas atividades económicas interligadas, exigindo competências em diferentes domínios do conhecimento. Da sustentabilidade ao comportamento humano, das operações às infraestruturas, a oferta formativa deve proporcionar uma visão integrada, permitindo uma abordagem holística dos desafios que o mercado enfrenta.
- Integração de novas competências digitais; a introdução de temas, como inteligência artificial ou a análise de dados, permitem formar profissionais mais próximos da realidade do mercado. A preparação para responder de forma ágil num mundo global e extremamente volátil é essencial num setor exposto a externalidades e a mudanças de paradigma constantes.
- Reforço da hospitalidade como disciplina transversal; a hospitalidade deve afirmar-se como competência essencial em diferentes cursos e carreiras que impliquem uma dimensão humana. Esta é uma das áreas que a inteligência artificial não substitui. Instituições internacionais, já estão a apostar na hospitalidade integrada em carreiras muito diversas.
- Criação de hubs colaborativos e laboratórios de inovação aplicados ao turismo pode gerar soluções inovadoras. Projetos-piloto, desenvolvidos em colaboração entre academia, empresas e estudantes, permitem a aplicação da investigação diretamente no mercado. A experiência já consolidada nas universidades portuguesas em iniciativas semelhantes na ciência de dados, na tecnologia e na saúde, entre outros, demonstra o potencial destes modelos quando transpostos para o turismo.
Assim, apoiadas na excelência científica e pedagógica, e beneficiando das condições únicas de Portugal para atrair talento internacional – clima, cultura e qualidade de vida –, as universidades portuguesas estão em posição de contribuir, não só para a transformação sustentável do setor a nível nacional, mas também para projetar o país como centro internacional de formação em turismo e hospitalidade, com uma proposta diferenciadora e única.