A dívida pública e financeira tem aumentado desde a crise financeira. O relatório do FEM, divulgado esta quarta-feira e desenvolvido em parceria com as seguradoras Marsh & McLennan Companies e a Zurich Insurance Group, que cita dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), salientou que o rácio da dívida em relação ao PIB mundial subiu 11% entre 2009 e 2017. E as perspectivas futuras não apontam para uma inversão desta tendência: em 2024, estima-se que a dívida pública alcance os 95% do PIB entre as vinte economias que integram o G20.
A dívida do setor privado também preocupa o FEM, que se tem acentuado devido ao contexto das baixas taxas de juro, ou negativas em alguns casos. Nos Estados Unidos e a na China, as duas maiores potências económicas mundiais, a situação é motivo para soar os alarmes, uma vez que acumulam 40% da dívida privada mundial. O relatório revelou que a dívida das empresas norte-americanas representava 47% do PIB dos Estados Unidos no terceiro trimestre de 2019, enquanto a dívida das empresas chinesas representava 156% do PIB chinês no segundo trimestre de 2019.
A faca de dois gumes das baixas taxas de juro
Entre as maiores economias mundiais, as taxas de juro estão em mínimos históricos. A taxa de juro de depósito no Japão está em -0,1% desde 2016. E, em setembro do ano passado, o Banco Central Europeu cortou a taxa de juro para -0,5%. Seguiu-se a Reserva Federal norte-americana que, em outubro de 2019, cortou a taxa de juro de diretora para um intervalo de 1,50% a 1,75%.
Teremos chegado a um ponto em que as medidas de política monetária convencionais deixam de produzir efeitos úteis? O FEM frisou que “à medida que os sinais de abrandamento da economia se fazem sentir, começa a surgir o risco de as ferramentas anteriormente utilizadas para travar as ‘derrapagens’ da economia perderem eficácia”.
“Os mercados financeiros e as finanças públicas sob pressão estão a criar incerteza sobre a eficácia, no futuro, da política monetária convencional e do investimento público, ferramentas que impulsionaram o crescimento económico no passado”, lê-se no documento.
O FMI também já se pronunciou sobre o fenómeno das baixas taxas de juro. Se, por um lado, sinalizou que impulsionaram o crescimento económico no passado, por outro, propiciariam níveis de dívida mais elevados que “poderão afetar a estabilidade financeira”.
Entre os que já deram sinais de aperto, encontram-se os bancos europeus, que sentiram o efeito das baixas taxas de juro na rentabilidade. No segundo trimestre do ano passado, a banca europeia registou, em média, uma rendibilidade dos capitais próprios de 7%, abaixo dos 12,1% alcançados pela banca norte-americana, referiu o relatório.
Pouca margem orçamental para enfrentar abrandamento económico
O aumento da despesa pública retirou capital aos cofres públicos e, consequentemente, reduziu a margem que os governos têm para fomentar políticas de investimento público. A título de exemplo, o relatório referiu que o BCE analisou 40 anos de dados de 17 economias europeias e concluiu que o investimento público pode não ser eficaz quando a dívida pública é elevada.
Além disso, as taxas de imposto têm aumentado. Por exemplo, entre os países que integram o G20, a taxa média máxima de imposto subiu mais de dois pontos percentuais desde 2009, para 37,7%.
Uma das soluções passaria pela descida dos impostos e que poderia estimular a economia. Mas o WEF assinalou que a medida poderia esbarrar em pressões políticas e sociais que surgiriam porque esta receita do Estado Estado é utilizada para serviços públicos que tentam combater a desigualdade.
“A dívida elevada e uma economia em estagnação explicam porque é que “as crises orçamentais” constituem um dos maiores riscos globais identificados por cerca de 13 mil executivos para a próxima década, no âmbito de um inquérito desenvolvido pelo WEF em 2019. No contexto mundial atual, finanças públicas ‘frágeis’ têm duas implicações: prejudicam a margem de os governos mitigarem os efeitos de uma recessão e poderão agravar tensões sociais que já se fazem sentir” na sociedade”, referiu o relatório.
“O mundo aprendeu com a crise da dívida soberana na Europa que correções orçamentais drásticas e austeridade pública podem ‘encolher’ o bem-estar com consequências políticas e sociais que muitos governos não estariam capazes de enfrentar. No entanto, se a conjugação de um arrefecimento económico prolongado com a crise da finanças públicas pressionar os governos a canalizar recursos para resolver questões do curto-prazo da vida dos cidadãos, os governos arriscam-se a ficar com pouca margem para o investimento público de forma a combater o abrandamento da economia”, concluiu o FEM.
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