Os primeiros indicadores das eleições francesas apontam para a possibilidade de a esquerda sair vitoriosa das eleições deste domingo. A ser assim, seria uma reviravolta total do que todos esperavam que sucedesse. Segundo a imprensa francesa, a coligação de esquerda – que engloba também socialistas, comunistas e Verdes, poderá ter entre 175 e 205 lugares. Para o partido de Emmanuel Macrom, os lugares a ocupar serão entre 150 a 175 – enquanto a extrema-direita do Rassemblement National (RN) fica nos 115 a 150 lugares.
Mas estes resultados foram divulgados, Jean-Luc Mélenchon usou da palavra em público para deixar claro duas coisas: que a coligação vai colocar em prática o seu programa; e que não está aberto a qualquer entendimento com o partido de Emmanuel Macron, o Ensemble. “É preciso salvar a república”, disse, e isso foi colocado pelos franceses nas mãos da coligação de esquerda.
De acordo com as primeiras estimativas do instituto Ipsos com o grupo Talan para a France Télévisions, Radio France, France 24/RFI e LCP-Assembleia Nacional, dentro do bloco de esquerda, La France Insoumise ganharia entre 68 e 74 assentos, o Partido Socialista entre 63 e 69 assentos, os Verdes entre 32 e 36 assentos. Do lado presidencial, a Renascença deve conquistar de 95 a 105 cadeiras, o MoDem de 31 a 37 e o Horizons de 24 a 28. Olhando para os números de outra forma, é necessário perceber-se que o RN é o maior partido na Assembleia Nacional em termos absolutos (sem as coligações), enquanto que o partido de Macron se fica pelo segundo lugar, e o partido de Mélenchon não vai além do terceiro.
Para o RN e seus aliados, o RN ganharia entre 120 e 136 cadeiras, e a fração do partido Les Républicains que se aliou ao partido Lepéniste entre 12 e 16 cadeiras. O Les Republicains, por sua vez, devem conquistar entre 57 e 67 cadeiras. Os vários candidatos de esquerda (excluindo a Nova Frente Popular) devem ganhar entre 13 e 16 assentos; e candidatos classificados como “outros” (como regionalistas) de 8 a 11 cadeiras.
Entretanto, o analista político Francisco Seixas da Costa recordou em declarações à CNN aquilo que já havia dito ao Jornal Económico: “Emmanuel Macron não está obrigado, uma vez não havendo maioria absoluta, a chamar Mélenchon para o lugar de primeiro-ministro”. De qualquer modo, a primeira reação dos analistas é de grande cautela: face à surpresa dos resultados, preferem escudar-se na incerteza de os números serem apenas sondagens, sendo por isso necessário esperar por resultados oficiais. Para todos os efeitos, Marine Le Pen e Jordan Bardella irão por certo vitimizar-se – como é costume nas eleições mais recentes – queixando-se de um sistema que sistematicamente os coloca fora do exercício do poder.
Jordan Bardella falou entretanto, afirmando que o partido conseguiu o melhor resultado de sempre. E que foi uma pena, disse, que uma coligação “contra natura” tenha saído vencedora. Também o extremista disse que Emmanuel Macron é um dos culpados da situação, ao engendrar a partir do Palácio do Eliseu uma política de coligações que acabou por subverter o que parecia ser uma vitória segura do RN. “Estaremos sempre ao lado dos franceses”, concluiu – no que não é suficientemente acompanhado. Marine Le Pen não quis falar do púlpito onde esteve Bardella, tento optado por falar individualmente para algumas câmaras de televisão – tendo dito de substancial que a direita francesa não perdeu definitivamente e que Emmanuel Macron terá agora que gerir o problema político de que é responsável.
Para Macron fica a possibilidade de clamar vitória: a extrema-direita está fora do poder, o ‘seu’ partido como que renasce das cinzas das eleições para o Parlamento Europeu – e mantém-se uma forte possibilidade de criação de um governo onde o centro tenha de estar presente. Refira-se que ainda a meio da tarde, o Palácio do Eliseu deixou saber que Macron não deve falar ao país durante a noite de domingo. Quem falou foi Gabriel Attal, ainda primeiro-ministro – até esta segunda-feira de manhã, altura em que, disse, apresentará a sua demissão – que disse que o país está, apesar das eleições, a atravessas um momento de enorme fragilidade. Entretanto, Macron deixou saber que não vai escolher este domingo quem será o próximo primeiro-ministro.
Ficou para todos os efeitos provado que a ida maciça às urnas foi o segredo para um eventual grande resultado da esquerda francesa. Com as abstenções a não irem muito além dos 33%, essa parece ter sido a ‘desgraça’ da extrema-direita.
O RN conquistou os dois primeiros deputados ultramarinos da sua história, na ilha da Reunião e em Mayotte, anunciaram os candidatos do partido de extrema-direita nestes dois círculos eleitorais, na noite da segunda volta das eleições legislativas.
Joseph Rivière anunciou a sua vitória e o seu adversário, Alexis Chassalet esquerda), admitiu a derrota no 3ºcírculo eleitoral da Ilha da Reunião, onde o primeiro obteve pouco mais de 51% dos votos de acordo com os resultados provisórios. Em Mayotte, “parece muito claro” que Anchya Bamana “está eleita”, declarou o deputado cessante Mansour Kamardine (Les Républicains).
(Em atualização)
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