A era digital democratizou o espaço público. Não é necessário escrever num jornal para publicar opinião ou para dar notícias, como não é necessário ter um programa num canal de televisão para divulgar certos conteúdos. As redes sociais universalizaram o acesso ao “público”.

Bloggers e youtubers desempenham um papel cada vez mais relevante sobretudo junto das gerações mais jovens. De acordo com a revista “Variety”, seis em cada dez influencers de crianças e de adolescentes são youtubers. A abertura deste espaço, proporcionada pela tecnologia, é positiva para a sociedade. Dá-se palco à espontaneidade e criatividade, descobrem-se novos talentos, a informação flui a grande velocidade e o debate público de ideias ganha uma abrangência impensável há não muito tempo.

Mas nem tudo é um mar de rosas. A total liberdade que marca o ecossistema digital tem também um lado perverso. Com a ausência de regras vem a ausência de responsabilidades. E com esta vêm as fake news, veiculadas por contas de Twitter sem cara ou com fake faces.

O facto de não ser o jornal ou o jornalista a dar a notícia tem tanto de bom – a dificuldade em conter ou suavizar certas notícias – como de perigoso, já que não há deontologia nem ética profissional a mediar a realidade, nem declarações de interesses por dever de ofício antes de apresentar uma perspetiva dos factos. As consequências têm ido do meramente insignificante à mudança do desfecho previsível de eleições presidenciais.

A outro nível, é também preocupante o fenómeno de que os influenciadores das novas gerações fazem o que for necessário para ter mais seguidores. Alimentam-se disso. Não há regras e os episódios trágico-cómicos começam a suceder-se. Desde o jovem morto a tiro pela namorada em direto no seu canal de youtube quando tentavam provar que um disparo de pistola não atravessaria o livro que tinha em frente ao coração, a uma blogger atacada por tubarões quando mergulhou intencionalmente para o meio deles numa praia paradisíaca, a um grupo de jovens bloggers que perderam a vida arrastados pela corrente enquanto nadavam no topo de uma catarata.

Há alguma autoridade pública que possa pôr um travão nestes conteúdos vistos por crianças e adolescentes ou fica exclusivamente para os pais a responsabilidade de controlar o que os mais novos consomem na net? Ou é o mercado, isto é, os anunciantes, que devem impor regras aos influenciadores que escolhem para promover as suas marcas?

A sociedade tem que aprender a lidar com o fenómeno da rede livre para todos. No fim do dia é a própria democracia que pode ser posta em causa. Não é fácil regular as redes sociais, o tal espaço público de livre acesso, sem destruir o que este tem de bom. A revolução já começou há muito e os desafios são inúmeros. Prepare-se!